Percepção do Trabalho de Arquiteto de Informação

sábado, dezembro 26, 2009

O mercado de Tecnologia de Informação (TI) brasileiro tem um problema. Este problema não é de estrangulamento, não é mercadológico, assim como não é da falta de especialização profissional. Há muito percebe-se que o foco das empresas de TI tem sido a resolução de problemas de uma forma desordenada, rápida, produtos entregues em um processo que visa mais a impressão momentânea do cliente do que a qualidade. Impressão sim, pois os bons resultados só acontecem nos primeiros dias de uso para depois serem descobertos erros básicos, muitas vezes pela falta de planejamento ou ignorância das necessidades, modelo mental e outras características do público-alvo e/ou da tarefa e regras de negócio.

O mais triste é escutar que estes erros eram previstos pois "o que o cliente percebe é a velocidade de entrega", ou seja, há um conhecimento prévio de que as coisas vão dar errado e serão refeitas diversas vezes (o famoso refactorying), o código será refeito e rearrumado, a modelagem UML refeita, o design modificado e arquitetura de informação só será avaliada com o produto pronto. Pior que depois da análise de arquitetura, você ainda irá escutar: "- Concordo, mas agora não dá para voltar atrás, não dá para refazer esta parte do código, não dá para colocar esta informação.", entre outras frases célebres que permeiam o desenvolvimento caótico onde se quer construir o sobrado da casa antes das fundações e depois sai mais caro consertar do que fazer de novo.

O mais perigoso é a má interpretação de modelos estrangeiros como Agile, Scrum e outras técnicas que, aqui, são aplicadas através de uso literal, inflexível, quase que como uma receita de bolo. Como toda receita de bolo na cozinha de um Chef, a receita ou é seguida sem reflexão, ou é alterada ao bel prazer sem se medir as consequencias. Já pude até escutar de um amigo que a metologia scrum que utilizávamos em outra empresa era "meia-boca" uma vez que na outra empresa percebeu-se que a interpretação do material de estudo não estava correta, o que gerou a criação de um próprio processo scrum interno, adaptado à dinâmica dos projetos, pessoas e empresa. O processo chamado de "meia-boca", depois de 01 ano de insistência, passou a considerar a arquitetura de informação e o design como partes essenciais do projeto, sendo que os profissionais de TI já estavam começando a compreender o efeitos destas disciplinas no sucesso dos produtos.

As características multidisciplinar de atividades como design, arquitetura de informação, ergonomia, até mesmo a arquitetura de prédios, casas e interiores, faz com que todos de fora tenham uma opinião sem terem base científica ou de mercado. contando apenas com o "achismo". Ninguém pede a um médico que coloque o coração mais para o lado direito, ou que um engenheiro civil deve colocar a coluna na lateral e não no meio do teto.

Por que para estas outras profissões há uma vontade do palpite enquanto que para outras isto não existe? Por que não há a percepção de que existem pessoas que estudaram, possuem conhecimento avançado naquelas áreas e podem elucidar e pensar problemas que você não percebe? Por que falta a percepção que isso pode significar perda de dinheiro, de público e o crescimento da concorrência?

Isto inclusive afeta o nível salarial de arquitetos e designers que em alguns casos são muito mais especializados do que alguns desenvolvedores nas empresas (ou a hora no mercado freelance). Ah, arquitetos podem ser designers, desenvolvedores, analistas, psicólogos cognitivos, ou seja, a formação básica não tem relação com a especialização, talvez apenas com o foco.

Esta introdução abre uma série de textos que irei trazer para o blog sobre arquitetura da informação que podem servir como banco de argumentos a quem trabalha com arquitetura e design. A arquitetura de informação, ao lado do design, talvez sejam as áreas mais mal-interpretadas no mercado de TI. Não sei dizer se pela falta de compreensão ou se pela visão ensinada nas faculdade e cursos de informática, mas a racionalização de processos e os "achismos" tendem a sumir com a geração de profissionais mais jovens, principalmente pela introdução da usabilidade nas faculdades de tecnologia.

Uso também este espaço para defender a engenharia. A arquitetura de informação e usabilidade se originou na engenharia de produção na ergonomia. A engenharia de usabilidade visava a análise do uso de interfaces de máquinas, tanto em displays quanto de interfaces físicas (alavancas, botões, pedais, manuseio fino, etc.). Fiz mestrado em engenharia e portanto posso afirmar que em 90% dos casos (minha experiência) os engenheiros ainda conseguem ter a cabeça mais aberta em termos de processo do que os profissionais de informática.

Os textos não visam atacar a informática brasileira visto que tenho muitos amigos, profissionais de TI, que compartilham da minha visão. O principal é trazer informações a partir de livros e artigos que li, conversas com profissionais, palestras e congressos, para que este trabalho sirva como conscientização e reflexão do porquê é tão difícil para as empresas de TI brasileiras inovar, planejar, pensar, refletir e trazer as regras de negócio e o próprio usuário para mais perto da construção dos produtos.

Roma não foi construída em um dia, e nem um sistema de sucesso será construído em dois dias, uma semana, três meses. Faça seu planejamento ser real para que qualidade real seja atingida. Não trate a arquitetura de informação e o design como etapas inúteis ou como a fase que deixará seu produto "bonitinho", pois elas talvez sejam a parte mais importante para o seu usuário e para que você consiga competir contra produtos concorrentes que vão roubar a sua idéia e melhorá-la. Arquitetura e design são justamente as etapas que você não deve tentar acelerar, fazer de qualquer jeito ou cortar do projeto.

Nota, é papel do profissinal de arquitetura de informação e do designer tornar sua documentação compreensível a qualquer profissional envolvido com o projeto, inclusive o cliente. Se materiais como wireframes, fluxos de tarefa, mapas do sistema, mapas mentais, e outros "entregáveis" não estiverem compreensíveis, exija da sua equipe ou contratado que o material seja mais esclarecedor e menos técnico, mas da mesma forma detalhado, sem perder informações por simplificação. O bom profissional é aquele que consegue explicar o que faz para uma criança de 7 anos e ela entende.

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Crítica: 2012

sexta-feira, dezembro 25, 2009

Não, não foi para testar novas tecnologias, e nem para apresentar um novo clássico, 2012 é ruim. Ruim em diversos aspectos. A quantidade de clichés cinematrográficos é tão grande que chega-se ao ponto em que fica impossível contá-los ou listá-los. Fui ver 2012 no dia em que tentei ver Avatar, mas descobri que as sessões de Avatar estavam todas lotadas. Pelo marketing entorno da produção, você acaba ficando curioso para ver o que mais um filme catátrofe de Roland Emmerich pode lhe trazer.

O filme começa como todo filme blockbuster feito para o senso comum. Um grupo de cientistas, como no "Dia em que a Terra Parou" com Keanu Reeves, abre o filme descobrindo a catástrofe iminente. No início eles não acreditam, mas quando vêem que a coisa é séria tentam convencer o governo, mas ninguém acredita de primeira. Após convencê-los, por coincidência (e para acelerar o filme) há uma reunião do G8 em andamento. Agora o presidente americano pode anunciar aos líderes mundias que o mundo vai acabar, no melhor tom dos grandes pioneiros e pastores americanos, um discurso a lá Independence Day.

Segue a introdução dos personagens que criam a empatia com a história (alguém lembrou de Syd Field?). Por enquanto nada aconteceu, a não ser rachaduras nas ruas que assustadoramente perseguem os carros exatamente na direção para onde se dirigem. De repente, quando o presidente resolve falar na TV, aí sim a Terra fica zangada e começa a destruição de verdade (pô senhor presidente, que papelão!).

Nisso seguem diversas frases de impacto como "Hoje salvamos o mundo", "Hoje a humanidade se despede" e outros clichés do discurso de filmes para as massas. Milagrosamente a energia em todos os Estados Unidos não caiu, todos estão com as luzes acesas, usam seus notebooks sem economizar energia e conseguem se comunicar por celular com o mundo inteiro, mesmo sem antenas. Um viva para os satélites!

Como se sabe, o mundo não vai acabar de verdade. Os maias, por acaso, só escreveram seu calendário até 2012, mas nunca disseram que seria o fim do mundo. De repente quando Cortez (ou foi Pizarro?) chegou para destrui-los, não deu tempo de fazer 2013? A realidade é que ninguém fala de fim de mundo neste ano em específico. Tomara que não achem no futuro aquele calendário legal na caneta colorida que eu tinha quando criança, pois ele só vai até 2040!

Quando 2012 começa eu pensei estar vendo Guerra dos Mundos de Steven Spielberg, com Tom Cruise. O pai separado que tem que cuidar dos filhos nos finais de semana. A filha adora o pai mas o filho mais velho odeia. No decorrer do filme eles vêem que têm muita coisa em comum e fazem as pazes. O herói faz as pazes com a ex-esposa e todos vivem felizes para sempre pois a tragédia acabou milagrosamente.

Depois pensei peraí, não é Guerra dos Mundos, é The Cosby Show! Nada contra, o bisavô da minha mãe era afro-brasileiro casado com uma mulher branca, mas colocar todo o elenco de "líderes do filme", todos como afro-americanos? Por favor expliquem o porquê. Por causa da eleição do Obama? Não sei... Sei que é a terceira vez que vejo a cara de Danny Glover suja de pó branco (a primeira foi em Máquina Mortífera e a segunda em Predador II).

Quando fazia arte sequencial (lê-se quadrinhos), normalmente guardava uma caixa de imagens de referência para desenho de pessos e objetos. A impressão que tive ao ver 2012 é que pegaram essa caixa de referências e simplesmente usaram para fazer um filme. Lembra daquelas mesmas imagens que aparecem em todos os filmes catástrofe, por exemplo, muçulmanos rezando em Meca ao redor do cubo, multidão no Vaticano, judeus no muro das lamentações, não é brincadeira, as imagens são exatamente as mesmas em todos os filmes, para dizer que a população mundial se uniu contra a tragédia.

Agora vamos a alguns bloopers. Na India, o amigo de Adrian Helmsley estuda a movimentação das placas tectônicas com computadores altamente sofisticados enfiados em uma mina, com um pequeno ventilador branco em cima da mesa, enquanto o cientista-chefe coloca gelo nos pés! Meu Deus, os computadores têm coolers alienígenas? Como são refrigerados? E os computadores com interfaces complexas de globos em 3D que se atualizam em tempo real? Onde eles arranjam esses brinquedos maravilhosos? (citando Coringa). E na decisâo de abrir as portas, os americanos sâo os ùltimos a decidir fazer a coisa certa.

Outra coisa que me incomoda é por que o personagem de John Cusak nunca jogou na loteria federal americana. Quando o chão está desabando no último segundo o avião sobe. Quando o viaduto está caindo, no último segundo o carro passa, quando o trailer cai no buraco, no último segundo ele pula! Meu Deus cara, vai pra Las Vegas! Será que não podiam pelo menos ter disfarçado isso né? E fala a verdade, a garotinha usou fraldas no início do filme só como pretexto para fazer a piada de fechamento da produção...

Parabéns também à equipe de product placement que não tentou esconder nada. A Sony deve ter pago um dinheirão para que todos os notebooks no filme fossem Sony Vaio. Não vou nem falar do carro Bentley. Aliás, quanto a Globo pagou para aparecer no filme? Para piorar todo termo americano foi traduzido como algo "familiar" à cultura brasileira, o que soa ridículo (trocar Kumbaya por "cantar um coro"), já é tempo de estarmos familiarizados com os termos usuais dos filmes que vemos, não precisa inventar termos abrasileirados.

Filmes encomendados à parte, os efeitos especiais são muito bem feitos, é fantástico ver toda a destruição tão bem produzida pela equipe de pós-produção (com exceção dos cromaquis - fundos verdes - quando os atores estão em cena, principalmente viajando de carro, muito mal feito). Não vejo a hora de receber minha revista Cinefex para ver como foram feitas as cenas de desabamento.

O que ainda me incomoda nos efeitos de certos filmes como este e Avatar, é o uso de técnicas de renderização de radiosidade e/ou tipo v-ray que fazem com que todas as cenas de efeitos tenham um tom escurecido, acinzentado e com sombras exageradas. Você nunca vê uma cena de efeitos em campo muito aberto, muito de perto e/ou com luz do sol muito evidente. Isso iria deixar o visual de 2012 com cara de Toy Story.

Minha reclamação vai mais uma vez à equipe do Cinemark Botafogo que estava extremamente desorganizada neste dia pois não conseguiram administrar a quantidade de pessoas nas salas de cinema para ver o filme Avatar.

Poucos funcionários e medo de que pessoas entrassem em salas sem pagar fez com que fossemos enviados a porta de emergência para sair pela parte de trás das salas, sem ninguém da rede Cinemark para nos guiar pelas escadas. Tinham velhinhas nas salas com netos que estavam com dificuldade de descer as escadarias e diversas pessoas perdidas sem saber como sair no mesmo andar em que estavam. Cinemark está cada vez mais piorando os seus serviços, esta minha experiência foi péssima.


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Crítica: Avatar 3D

quinta-feira, dezembro 24, 2009

Por um milagre daqueles que acontecem de repente, consegui ver Avatar em 3D na primeira semana. Um amigo comprou os ingressos com antecedência e não pôde ver, portanto o ingresso a mais ficou para mim. Cinema lotado, semana lotada, Avatar é a sensação da semana nos cinemas de todo o país. É um deleite visual tanto para o cinéfilo quanto para os que vão ao cinema por passatempo. Mesmo sabendo que não passa de um exercício de James Cameron para testar a nova tecnologia, vale a pena conhecer o mundo de Pandora, seus clichés, sua semelhança com outros filmes ou os sons e modelos 3D aproveitados pela Industrial Light & Magic (ILM) a partir de outros filmes feitos no passado.

Antes, um pouco de história do cinema. Lawrence da Arábia (Peter O'Toole) é enviado como espião para verificar o avanço dos árabes na luta contra os turcos durante a I Guerra Mundial. Lawrence eventualmente consegue unir várias tribos árabes na luta contra o império otomano ao lado de um general britânico. Agora pense bem. Um estrangeiro é enviado para conhecer e espionar um povo. Este se identifica com a cultura e com a causa e, através do seu carisma e vitórias, consegue unir tribos para lutar por um objetivo em comum.

Avatar conta a história do fuzileiro naval Jake Sully que fica paraplégico no campo de batalha. Seu irmão é um cientista em um projeto secreto do governo na busca de novas fontes de energia em um planeta distante. Neste planeta os cientistas humanos tentam uma aproximação maior com os nativos, os Na'vi, se passando por seres da espécie através de uma técnica chamada Avatar. Os avatares são corpos alienígenas criados geneticamente mas que não possuem consciência, ou seja, são inertes até que uma consciência humana seja transmitida a eles por um sofisticado maquinário que lembra Matrix.

O irmão de Jake morre em campo, e como o avatar está programado para o DNA da família, só Jake, irmão gêmeo, pode substituir o irmão no controle do ser. Jake aceita a missão e trabalha para os cisntista enquanto uma empresa inescrupulosa e um general linha-dura pedem que ele investigue o povo desconhecido e suas intenções de se mudar do local onde há mais minérios. Eventualmente Jake simpatiza com a raça indígena local e resolve protegê-los custe o que custar.

Diferente de técnicas convencionais de motion-capture como as utilizadas por Robert Zemeckis (revolucionárias na época), onde o ambiente digital é adicionado após os atores, a nova camera de James Cameron permite observar nos monitores como os personagens virtuais interagem com o mundo digital, tudo em tempo real, da mesma forma como é filmado em locações reais. É possível voar por cima da cena, mudar ângulos, é como uma miniatura viva.

Outra técnica é um novo recurso que permite captar expressões faciais com uma câmera na frente da face do ator transmitindo os movimentos ao computador. Também era possível aos atores interagir com os seres virtuais no set de filmagem. Peter Jackson, Steven Spielberg e Geroge Lucas chegaram a visitar os sets de Avatar para ver a nova tecnologia em operação.

Agora vamos parar para analisar o áudio-visual. Por ser um exercício, talvez James Cameron não tenha se preocupado em disfarçar certas "reciclagens" de outros filmes. Os sons dos animais na floresta de Pandora são exatamente os mesmos utilizados na série Jurassic Park. Os gritos do velociraptor, o ataque do T-Rex, todos os sons foram aproveitados de forma explícita. Muitos dos modelos 3D de naves e mechas (lê-se 'mekas', os robôs que permitem um homem dentro), são aproveitados de filmes como Matrix (nã osei se a ILM fez Matrix, mas o conceito é idêntico).

Os Na'vi são o povo de Apocalypto de Mel Gibson (a diferença é que, diferente de George Lucas que cortou os Wookies no meio para fazer Ewoks, Cameron fez um smurf gigante). Ah, e tem a comemoração do final do Retorno de Jedi quando a batalha é ganha (alguém falou nas casas iluminadas no topo das árvores?).

Alguns clichés são as cenas de romance (como a alienígena sabia o que era um beijo?), o se apaixonar por outra espécie, o estrangeiro (ou inapto) ser o "the chosen one", Jake dominar uma fera alada que só os grandes da tribo já tinham domado, o general louco que força a barra da guerra e ainda o homem de negócios interpretado por Giovani Ribisi que lembra o personagem de Paul Reiser em Aliens (toda vez que Sigourney Weaver levantava da cama do avatar e acendia um cigarro eu me lembrava da Sgt. Ripley).

Não senti muita diferença no uso do 3D, apesar de meus amigos terem percebido mais efeitos de profundidade do que eu. A impressão que tive é de assistir ao antigo brinquedo americano View Master, só que em uma tela grande. Claro que muitas cenas levantaram piadas. A pintura de Jake que nem a do grupo Timbalada, onde estavam os Na'vi gordos, a Ana Lucia de Lost (Michelle Rodriguez), Sam Worthington que não consegue ser humano no cinema, os Nazguls (Senhor dos Anéis) pilotados pelos Na'vi, as plantas de fibra ótica, a árvore da vida do parque da Disney, entre outros. Ainda me incomoda todo alienígena do cinema ser humanóide (o que em Avatar é até que justificável). A semelhança com atores reais foi desnecessária (a cara de Sigourney Weaver no Na'vi vai me dar até pesadelos).

Reaproveitamentos a parte, o filme tem um visual fantástico e uma idéia forte sobre a ligação com a natureza. Pandora não mostra a baboseira espiritual de "Gaia" ou qualquer outra teoria hippie de conexão com a Terra, a união dos Na'vi com seu mundo, plantas e animais, é física, é uma rede neuronal, é algo palpável e real. O design é maravilhoso, a criação de híbridos de criaturas com plantas, a floresta detalhista, o trabalho de 3D super elaborado, tudo acrescenta à obra de Mr. Cameron.

Meus parabéns aos cinemas da rede Kinoplex (fui no da Tijuca pela primeira vez). Não achei as cadeiras tão confortáveis, mas as salas são excelentes, tudo bem organizado e as pessoas viram o filme quietas, sem falar muito ou comer pipoca do meu lado (thank god...). Os novos cinemas do grupo Severiano Ribeiro são uma boa opção contra os cinemas da rede Cinemark que não acompanharam as mudanças visuais e organizacionais das salas mundiais.



[Avatar Dublado]

Esta semana fui ver Avatar de novo, desta vez dublado, no UCI do New York City Center na Barra da Tijuca. Ver o filme dublado permite reparar em diversos elementos da construção visual que antes passaram despercebidos por causa das legendas. Mesmo falando inglês desde os 8 anos de idade, é difícil desviar os olhos daquela coisa amarela piscando na área inferior da tela, acaba chamando muito a atenção, como um banner chato.

No inicio você se sente estranho pois, além da falta de sincronização labial, as vozes parecem não pertencer ao filme. A trilha dos diálogos é eliminada mantendo os efeitos sonoros, mas percebe-se claramente que foram gravações diferentes, usando equipamentos diferentes, pois a dublagem é mais nítida e menos "estéreo" do que os demais sons. Entretanto, depois de uns 20 minutos já não se repara mais.

Claro que as falas dos Na'vis não foram dubladas, uma vez que a censura do filme é de 12 anos. Uma pena ver pais descerebrados levando crianças de menos de 9 anos para um filme destes sem saber do que se trata. Havia várias crianças pequenas na sala para ver os "bichinhos azuis", e quando a batalha realmente começa você vê os pais tapando os olhos das crianças, olhando de rabo de olho, levando a criança para fora do cinema ou reclamando da violência.

Pais, por favor verifiquem a censura! Na censura de 12 anos, menores podem entrar com os pais, mas isso não significa que se pode levar uma criança de 4 anos para ver pessoas explodindo, levando flechadas e se agredindo. Mas para pais aculturados, se o McDonalds vende os bichinhos então é filme de criança (da mesma forma que desenhos animados e quadrinhos adultos). Esses pais qualquer dia vão comprar gibi do Milo Mainara para seus filhos "por engano".

Creio que o problema maior na dublagem foram os dubladores conhecidos. A voz do chefe da mineradora é feita por Nizo Neto, o filho de Chico Anysio e dublador de Ferris Bueller. Toda vez que Nizo abria a boca eu lembrava de Matthew Broderick. Não encontrei quem foram os demais dubladores, mas a direção foi feita por Guilherme Briggs. E por favor caro Guilherme, por que os Na'vis falavam com sotaque de Recife? Tudo bem, meu pai é de Pernambuco, mas fica difícil engolir esses aliens com sotaque nordestino.

Apesar da dublagem não atrapalhar, a tradução é perturbadora. A péssima tradução poderia ser feita de forma limpa, clara, no entanto a tradução me lembrou Batman quando Robin grita Kawabanga e aqui foi traduzido como "Uh tererê". Durante todo o filme você vai escutar gírias cariocas e outras expressões brasileiras como "vamos nessa", "sujou", "filhinha, este é meu video", "meu querido", "chocante", "manero", "beleza", entre outras.  Isso é um grande erro até por que gírias são organismos vivos, daqui a cinco anos os adolescentes vão querer ver o filme e não vão entender. Opte por coisas neutras e seu trabalho se torna atemporal e menos ridículo. Por isso existem as dublagens toscas que vemos hoje na TV, de filmes como De Volta para o Futuro, tudo refeito. Saudade das dublagens clássicas...

Apesar da raiva de ter meus dois primeiros parágrafos apagados pelo Blogger (blogspot) por erro de sistema do Google, esta foi uma tentativa de replicar os dois primeiros parágrafos deste texto de atualização. É complicado quando você desenvolve uma linha de pensamento e os responsáveis pelo sistema não criam um mecanismo eficiente de backup que salve o seu texto em casos de crash no servidor ou erros de desenvolvimento.


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Crítica: Nova York Eu te Amo

segunda-feira, dezembro 21, 2009

É cada vez mais difícil ver um filme no Grupo Estação uma vez que a maioria dos filmes só são lançados nos cinemas cariocas com grande atraso em relação ao mercado estrangeiro, o que acaba me levando a ver os filmes com antecedência de outras formas (nada de pirataria por favor, há outros meios de ver filmes inéditos no Brasil). Quando falo atraso, são grandes atrasos, meses. Mas hoje tive a sorte de ver um filme que há muito esperava, "Nova York, Eu Te Amo" (New York, I Love You, 2009).

O filme faz parte de um projeto do francês Emmanuel Benbihy entitulado "Cities of Love", e já teve seu primeiro título em "Paris, Eu Te Amo" (Paris, je t'aime). Inclusive haverá o "Rio, Eu Te Amo", no mesmo estilo (confira: http://www.omelete.com.br/Rio_Eu_Te_Amo), pequenas histórias de amor (no sentido de afeto e não necessariamente romance), interligadas pela vontade humana de fazer parte da vida do outro, de ser aceito, de manter a felicidade e fazer a coisa certa (mesmo quando se faz as coisas erradas).

O filme lembra diversos filmes de "contos da cidade", muitos inclusive recentes, onde os personagens não se conhecem mas de alguma forma possuem ligações e aos poucos percebem como até um enconto casual pode mudar a vida de quem conversa conosco por 2 minutos, mesmo sem nunca nos tornarmos íntimos. É talvez um novo gênero, digo, um gênero antigo que se firma no ideal cult de Hollywood (onde mais você conseguiria juntar tantos atores talentosos? Em 2012? Não creio...).

Todos os pequenos trechos são excelentes, mas me emocionou mais o garoto no baile de formatura, a conversa entre a judia e o indiano, e ainda o casal de velhinhos. Outro episódio com Hayden Christensen mostra que em NY, você sempre vai achar alguém melhor que você. Já a judia interpretada por Natalie Portman, junto ao indiano Irrfan Khan (Natalie é israelense de verdade) mostra as diferenças entre pessoas, entre culturas, as perguntas dos porquês e ao mesmo tempo a aceitação das tradições com um sorriso no rosto. Acho que esta é a melhor definição de Nova York, um local onde as culturas se entendem e onde tudo pode acontecer.

O melhor deste estilo não são apenas as mensagens, mas a aula de teatro que faria Stella Adler e Stanislavski sorrir em suas tumbas (pardon Lovecraft), uma aula de interpretação e um exercicio e respiro mais do que merecido para alguns atores que são obrigados a fazer filmes para o senso comum (de vez em quando), para sobreviver ao seu estilo de vida. Você pode ver a lista de atores no IMDB (http://www.imdb.com/NY) .

Destaco a linda e doce Blake Lively no papel da menina deficiente e a linda, inteligente e talentosa Natalie Portman. Esses elogios não são de fã e nem despropositados, Natalie pula de um blockbuster a um filme de arte, da atuação a direção, de ensaios fotográficos da alta costura à cabeça raspada em V de Vingança, da conversa boba e besteirol para a seriedade da psicologia que aprendeu em Harvard. Se encontrarem uma "Natalie" no Brasil por favor me apresentem. Frau Portman inclusive dirige um dos episódios de "Nova York, Eu Te Amo". Não jogaria fora também Emily blunt, minha nova Zooey Deschanel.

Quem está muito em alta agora, além de Shia LeBouf, é Anton Yelchin. Depois de Chekov em "Star Trek" e Kyle Reese em "Exterminador, A Salvação", Anton entra em mais um filme destaque da temporada.

Mais elogios e gratidão vão também a Anthony Minghella pelos grandes filmes e por um dos episódios mais emocionantes desta obra onde uma atriz reflete todo o seu passado esquecido pelo mundo, na criação de um garoto deficiente (Shia LeBouf) auxiliar do hotel (se eu explicar estrago a reflexão). O bom deste episódio é ver novamente o saudoso John Hurt.

Se você gosta de entender a atuação, o processo narrativo e os estilos de diretores, como eu gosto, não perca "Nova York, Eu Te Amo". Nota de rodapé, visitar Nova York o mais rápido possível, pegar o tour cinematográfico e voltar lá diversas vezes!

Uma pena que ainda se encontre problemas básicos nos cinemas do Grupo Estação como a visualização das cadeiras na compra do ingresso não corresponderem ao posicionamento dos assentos nas salas, obrigando você a escolher às cegas se não conhecer o recinto. Outro problema é um grupo de tradição artística, de filmes cult, se render aos comerciais antes do filme. Se estou pagando R$ 16,00 para entrar, tenho o direito de não ver propagandas para que o cinema ganhe ainda mais dinheiro às minhas custas.


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