Percepção e Experiência - Vernon

domingo, janeiro 10, 2010

No processo de procurar materiais que dessem uma base mais médica e psicológica ao trabalho do arquiteto de informação e do designer de interação, selecionei alguns livros de psicologia cognitiva que me oferecessem um melhor pool de arguementos assim como conhecimento do que podemos fazer, como arquitetos, ao lidar com a organização de informações, construção visual e marketing pelo conteúdo.

O primeiro livro desta lista foi Percepção e Experiência de M.D. Vernon. O livro não é novo, na verdade suas pesquisas datam da metade do século XX, entretanto boa parte de seus argumentos são interessantes e intrigantes no sentido de que nós, como humanos, temos orgãos que influenciam nossa percepção do que vemos, sentimos e como atuamos. Tenho ciência do papel da cultura (no sentido antropológico) no desenvolvimento destas experiências, mas seria ignorante de qualquer profissional não considerar que existem processos instintivos que não conseguimos controlar. E é aí que o profissional de design entra (seja ele designer, arquiteto, design thinker ou de marketing).

O objetivo do livro foi entrar no campo da percepção através da experiência considerando aprendizagem, memória, atenção, linguagem e raciocínio. Apesar de trazer uma abordagem acadêmica descrevendo diversos experimentos, Vernon elucida aspectos importantes da percepção e gestalt. Pode parecer cansativo o fato de que alguns dos temas tratados sejam relacionados a esquemas espaciais, percepção de pessoas e materiais complexos, mas têm-se uma ampla cobertura de percepção da forma, direção de atenção, constâncias, percepção de movimento, efeitos da motivação na percepção e o efeito das características de personalidade.

Processos de percepção

Primeiro é preciso entender o porquê. Vernon afirma que a forma e o movimento são integrados por processos de identificação, classificação e codificação através de esquemas perceptivos que dependem de aprendizagem, memória, atenção, raciocínio e linguagem. Isso significa que características básicas de cor, forma e movimento precisam ser sistematizadas e, além disso, processadas de forma estruturada para que o receptor da informação tenha a compreensão correta.

Na identificação o individuo perecebe as informações de acordo com a manutenção máxima de estabilidade, permanência e coerência, ou seja, todo processo de percepção considera variação e mudança e esta é interpretada baseado em modelos cognitivos pré-estuturados ou que são construídos em um processo evolutivo de aprendizado.

Alguns pontos sobre bebês

Ao atravessar blocos de informação, o individuo realiza movimentos sacádicos (movimentos rápidos dos olhos com pausa de fixação entre eles) de forma a procurar a informação formulada na construção da intenção. Apesar de não ser totalmente comprovada, esta característica foi encontrada também em bebês.

Nos experimentos com bebês, verificou-se que linhas verticais chamavam mais a atenção desta faixa etária, assim como as cores vermelho, amarelo, azul e verde, exatamente nesta ordem (o que lembra as teclas principais utilizadas nos dias hoje para controles remotos de TV interativa). Entretanto, bebês possuem um sentido exacerbado para a novidade, uma resposta orientadora que direciona o olhar e a excitação do sistema nervoso para a estimulação nova. O mesmo ocorre com a complexidade.

O que pode-se entender deste bloco é que nesta idade temos a tendência de ficarmos perplexos com a novidade, acostumar-mos com suas características, ignoramos por completo e eventualmente nos concentrarmos naquilo que é diferente. Entretanto, foi verificado que complexidade era algo importante no interesse da criança pois quanto mais complexo o objeto, o tempo de fixação visual dos bebês reduzia significativamente.

Me passou pela cabeça a pesquisa de público-alvo quando este não tem a educação, cultura e/ou conhecimento para interpretar certos constructos informacionais e visuais e ignoram elementos de interface por completo, ou desistem de utilizar um sistema inteiro. A exploração para o conhecimento e aprendizagem está associada a variedade, ao estímulo e à evolução da complexidade de forma que o modelo mental possa ser construído durante o uso do sistema e não assimilado já na porta de entrada.

A Necessidade de Humanização

A partir de certa idade a criança pretere rostos humanos a objetos, independente de sua forma, mas continuam com a curiosidade pela complexidade, pelo novo e diferente quando apresentadas a rostos deformados. Apesar de se aplicar ao mesmo processo de objetos, pode-se retirar da primeira parte da sentença anterior que a identificação com o outro, a necessidade do “ser social”, interfere na percepção e aprendizado, principalmente no interesse e motivação.

Veja a parte II deste post em alguns dias.

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