Crítica: Watchmen

domingo, março 08, 2009

Quando li Watchmen pela primeira vez eu era apenas um adolescente misturando quadrinhos de super-heróis com Mickey Mouse (adorava a Disney). Mas como todos os produtos de mídia (quadrinhos, tv, filmes, etc.), cada vez que experimentamos uma idéia criativa em uma idade diferente, percebemos coisas fantásticas que nunca reparamos antes. Watchmen é a mesma coisa.

Trazer Watchmen para a visão que tenho hoje de mundo, política, social, criativa, artística, etc., é um desafio e ao mesmo tempo um mergulho fundo na emblemática filosofia do Dr. Manhattan, nos conflitos existenciais do Coruja, nos perigos políticos previstos por Veidt ou os problemas familiares de Espectral. Watchmen nunca esteve mais atual e mostra que não evoluímos. Infelizmente nossa percepção de mundo, do que devemos fazer, de como lutar, da diferença do certo e errado, do respeito, dos preconceitos, continua a mesma de nossos bisavós. O mundo muda mas os intintos humanos continuam os mesmos, incontroláveis, saudosistas e perpetuadores de idéias e conceitos retrógrados que incluem o "errado" disfarçado de ascenção.

Uma nova realidade. Nixon está no quinto mandato, os EUA ganharam a guerra do Vietnam, entre outras coisas que aconteceram diferente de nossa realidade... Em Watchmen, o herói conhecido como Comediante é assassinado e o vigilante Rorscharch parte para descobrir o que pode ser um plano para matar e desacreditar todos os super-heróis do passado e do presente.

Quando ele restabelece a conexão com sua antigaequipe - um confuso grupo de super-heróis aposentados dos quais apenas um possui poderes verdadeiros - Rorschach percebe que existe uma conspiração abrangente e perturbadora com ligações com o passado que eles dividiram e catastróficas conseqüências para o futuro. Sua missão é proteger a humanidade, o problema é quem protegerá os heróis?

Watchmen mostra o que o homem comum não quer ver, a violência e pobreza nas ruas, as guerras, entre outras coisas que são ignoradas por aqueles que podem se afastar. Mas ninguém é inocente e só no fim refletimos sobre os atos que acabaram influenciando nossa concepção do certo e do errado. Os fins justificam os meios? Aquele que comete crimes é de todo ruim? O arrogante é ao mesmo temo uma pessoa má? Para responder estas perguntas é necessário se elevar a um evento intelectual muito maior do que a leitura e os filmes podem lhe trazer. por que sim, existe a coisa certa a se fazer, não depende do ponto de vista, no final só há uma alternativa.

O diretor Zack Snyder (300 de Esparta de Frank Miller) acertou em chamar para Watchmen atores desconhecidos (a semelhança com os personagens é grande), com exceção de Patrick Wilson e Billy Crudup que são bem conhecidos por filmes como Quase Famosos, Peixe-Grande, Missão Impossível (Crudup) e Fantasma da Ópera (Wilson). Atenção para a bela novata Malin Akerman em roupas de super-heroína! Legal rever a atriz Carla Gugino que tem feitos muitos papéis secundários em filmes após o término da série Spin City onde contracenou com Michael J. Fox e Alan Ruck (o Cameron de Curtindo a Vida Adoidado).

É impressionante como a atuação, as falas do roteiro e os ângulos de câmera são idênticos aos quadrinhos, sem retirar a magia da narrativa cinematográfica. Claro que houveram as licenças poéticas do roteirista, diretor e executivos de estudio, mas vê-se claramente que houve uma tentativa maximizada de tornar o filme um reflexo do ideal crítico de Alan Moore. Já não era sem tempo pois Hollywood conseguiu estragar, ou pelo menos mudar pra pior, algumas histórias de Moore de forma assustadora.

O inicio do filme é uma verdadeira obra prima, algo comparado a filmes hollywoodianos consagrados que relembram décadas passadas, por exemplo Forrest Gump, Nascido em 4 de Julho ou ainda séries de TV como American Dreams, entre outras que mostram cenas clássicas da tv e do rádio, uma viagem pela história americana. Claro que houve a fusão dos heróis em todas as cenas e o uso de uma trilha sonora bem colocada com os melhores clássicos do rock.

O fluxo do filme e o envolvimento com a história se torna muito maior, algo que aconteceu com Superman, Star Wars, Labirinto, Willow, e tantos outros filmes que fizeram sucesso se apoiando mais na história e personagens do que na fama de seus intérpretes. Uma pena que a música dos créditos foi tão mal escolhida. Após ver o filme eu tentei parar para refletir sobre tudo que havia visto, no entanto entrou um heavy metal e aí murchou todo o pensamento e só consegui lembrar de Transformers e Motoqueiro Fantasma.... Que péssima idéia para terminar um filme "cabeça".

Se você não leu e nem pretende ler os quadrinhos, leve um caderninho para o cinema. O filme é cheio de frases de impacto que você vai querer lembra depois pra dizer numa roda de amigos. O roteiro, claro, é quase literário, e a narração de Rorschach compete com os melhores filmes noir da década de 40 (eat this Humphrey Bogart!). O design do figurino e cenários também é um show a parte, mas você vai perceber muitos furos como por exemplo um disquete de 3 1/2 em 1985! Será que eles não sabiam da existêcia do 5 1/4? Eles estavam tão avançados assim? Entre outros furos de reprodução da época, afinal não faz tanto tempo assim e muitos de nós vivemos isso.

Além do símbolo "Have a Nice Day!", é interessante perceber as referências ao mundo dos quadrinhos (claro que o Coruja é o Batman), só que Watchmen traz este universo de uma forma muito mais realista e crítica. Espero ver mais filmes de heróis assim, com menos ação e amsi reflexão! Quem sabem eles resolvem filmar o clássico Marvels, pintado por Alex Ross, daqui a alguns anos...

Como li os quadrinhos há muito tempo, não sou capaz de escrever um post mais eloquente ou de descrever toda as mudanças do filme em relação a história original. Mas aos poucos vou listar aqui no blog o que eu percebi pois estou relendo as revistas para enriquecer este post.

2 comentários:

Xandre Lima disse...

Só não gostei muito da crítica da mulher da Veja, mas resolvi publicar mesmo assim... Já vi que esta crítica de cinema é fã de filme "pipoca"... Deve gostar de um bom blockbuster. Ela deve falar a mesma coisa de filmes como Laranja Mecânica, Cidadão Kane, Calígula e Juventude Transviada. Filmes não é pra todo mundo entender. Tem filme que é feito pra gente inteligente refletir e não pra um bando de tecnocratas comer pipoca e beber refrigerante de 600ml com o pé na cadeira.

Anônimo disse...

A Veja não pode oferecer mais do que isso, meu caro...

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