Gostar de Fazer vs. Trabalhar

sábado, outubro 25, 2008

Quando eu estava no segundo grau vi muitas pessoas que não sabiam o que fazer, alguns que faziam alguma idéia e outros que tinham plena certeza. Hoje em dia vejo que passar por vários cursos universitários nos 3 primeiros anos depois do segundo grau é uma opção muito boa para quem quer escolher a profissão, inclusive você pode assistir aulas em universidades federais e estaduais sem estar inscrito. Mas este não é o tema de hoje.

O tema de hoje é a sua escolha, aquilo que você gosta, aquilo que você quer fazer. Eu sou designer por profissão, mas posso dizer que sou ilustrador e jornalista por vocação (nunca fiz jornalismo mas se gosto de escrever, poderia ter escolhido este caminho). Ainda no meu colégio, havia um amigo que queria fazer Belas Artes de qualquer jeito por que gostava de desenhar. Eu acabei convencendo-o a fazer Programação Visual, mas a questão é, aquilo que você gosta de fazer, não necessariamente vai ser aquilo com o que você vai gostar de trabalhar!

Não adianta você gostar de desenhar e achar que vai ser artista, designer ou arquiteto, não adianta gostar de filmes de tribunal e querer ser advogado, não adianta fazer engenharia mecânica achando que vai fazer robô, não adianta fazer veterinária por que gosta de animais, não adianta estudar letras por que gosta de ler, assim como não adianta fazer um curso por que tem as melhores oportunidades de concurso (até por que todos os seus colegas de profissão vão te considerar um incompetente que estudou só para o concurso). Você tem realmente que gostar de trabalhar com aquilo e não só gostar de ver, de fazer como hobby ou achar bonito ou "legal".

As profissões são muito mais do que isso. Entrar em um curso por que tem relação com o que você gosta de fazer no seu tempo livre pode te frustrar depois... Nas áreas criativas isto é ainda pior. É como diz Luli Radfahrer: "Se a questão financeira pesar, mas pesar muito, abandone a área. Você sempre poderá ser um bom advogado ou cirurgião plástico com uma coleção de belos quadros em casa". E isso pode ser expandido para quadros, livros e até os robôs. A diferença é que nas áreas criativas (como artes, ensino, publicidade, marketing e informática) todo mundo acha que "conhece" o seu trabalho e que sabe o quanto deve te pagar.

É por causa desta visão equivocada que todos se sentem na posição de avaliar a qualidade do seu conhecimento (mesmo que você não seja designer isso se aplica). Neste caso você deve mostrar no seu trabalho algo além do seu hobby, além do que você gosta de fazer no tempo livre, deve mostrar uma visão de mudança... Mas infelizmente, isso não vai te garantir um bom emprego (pelo contrário, as empresas brasileiras são "cabeças-dura", teimosas e de mente fechada). Ao investir em conhecimento conceitual e pesquisa, você se transforma em um talento, um multidisciplinar, um pesquisador nato, um inquieto, um descobridor, diferente do tecnocrata corporativo a que estamos acostumados.

Mas isso dá muito mais trabalho do que os cursos de design, direito, medicina, engenharia, arquitetura, infromática, etc, irão te mostrar nas salas de aula ou mesmo do que aqueles livros e documentários que você gosta de ler e ver. Até mesmo os autodidatas têm problemas com isso por não conseguirem organizar o seu pensamento, procurando muitas vezes se firmar fortemente em uma única idéia sobre ferramentas e técnicas da moda ao invés de procurar o conhecimento conceitual não atrelado à prática técnica (lembre-se técnicas passam, idéias ficam).

Vi muitos amigos da área de design se frustrarem com a profissão por que achavam que iam desenhar bastante e perceberam que isso era 10% do trabalho. Alguns são profissionais bem estabelecidos em programação, redes de computadores, atores, desenhistas de moda, marketing, tem até uma menina em medicina, mas muitos terminaram quase 5 anos de curso para depois pular para outra coisa diferente.

Por isso abram os olhos seja qual for a sua profissão! Você chega em casa estressado? Você não tem "saco" pra se atualizar ou cria empecilhos psicológicos de tempo e cansaço? Você pensa em fazer concurso ou ir pra uma empresa grande só por que é mais fácil trabalhar lá (ou não)? Pense bem... Repito, aquilo que você gosta de ver e fazer no tempo livre, não é necessariamente aquilo com que você vai gostar de trabalhar.

E trabalhar é viver todos os dias, a todo instante, o conhecimento, não o conhecimento técnico, mas o conceitual aplicado na prática. Você se preocupa em saber muitas técnicas de gestão, muitos softwares gráficos, muitas tecnologias, muitas técnica de cirurgias, decorar muitas leis? Você já está estressado e no caminho errado, e mais, esqueceu que a criatividade e o ser humano são as partes mais importantes da aceitação do seu trabalho.

Quando você realmente gosta do que você trabalha você vira um talento. E sim, ninguém contrata talentos no Brasil. Você tem grandes expectativas para sua carreira, não aceita salários baixos, contesta seus chefes (de uma forma amigável, mas muitos não gostam), briga pelas suas idéias, aceita conselhos até do porteiro (pois como profissional criativo, qualquer que seja sua área, acredita no ponto-de-vista de todos) e não está muito preocupado em correr para conseguir um emprego pois tem dezenas de contatos por fora.

E mais, a cada vez que você se atualiza isso piora pois as pessoas não querem pagar o que você vale e isto também abre margem para você cobrar o quanto quiser pois quando estes precisarem de você, você vai cobrar muito caro para manter-se durante algum tempo. Ou seja, o mercado de trabalho brasileiro criou uma relação com os profissionais altamente capacitados onde os dois lados saem perdendo.

As empresas acabam contratando o profissional "prostituto", o "sobrinho", que não faz um trabalho de qualidade mas ganha menos e não contesta, e por outro lado contrata consultores terceirizados que cobram caro. Essa é a grande diferença entre o Brasil e os países de 1º mundo. Eles pagam o quanto você vale e toda nova idéia é bem-vinda.

A verdade é que o talento tem horror ao chicote, a ficar preso, a trabalhar de 8 da manhã às 7 da noite (sem contar horas extras), a não poder visitar um museu, restaurante, praia ou fazer um curso no meio do dia durante a semana útil. O talento já muito adulto quer levar seus filhos na escola antes de trabalhar, quer pegá-los a noite, quer nadar, quer ir a academia, e quando você priva o talento de todas as coisas que criam o "ócio criativo" ou melhor, o relaxamento físico e mental, a satisfação da vida, ele simplesmente não produz ou não trás a qualidade de tudo que ele estudou para dentro da sua empresa (até mesmo por que certos ambientes de trabalho são claustrofóbicos, tensos, metódicos, com muitos conflitos e com pessoas com medo de serem passadas pra trás e que desconfiam de todos).

As empresas clássicas no Brasil, e a maioria das instituições ligadas ou não ao governo, ainda querem o profissional "adestrado", o tecnocrata que trabalha demais, que não vive, que não tem qualidade de vida, que dá o sangue pela empresa, que só estuda aquilo que é preciso para a empresa, que não é interdisciplinar, que não faz correlações com outras ãreas e que o dia que vacilar pode ser trocado.

A criatividade, inquietude, as boas idéias, o pesquisador nato (que quer testar coisas novas), o contestador, este não é bem visto, o que leva muitos bons profissionais frustrados a procurarem o serviço público, freelas, ou trabalhar no exterior pois têm garantia de um salário bom e não precisam se preocupar com ser mandado embora. A era da exploração vai acabar pois o talento brasileiro que não trabalha para o governo vai virar freelance, seja ele advogado, engenheiro, designer, arquiteto, etc.

Mas abrir os olhos do leitor não vai mudar esta situação. Uma coisa é um procedimento de trabalho, outro é quando o procedimento vira cultura, e esta imposição do mercado brasileiro já virou cultura... Até mesmo as empresas estrangeiras querem abrir suas filiais na América Latina pelo perfil do profissional que trabalha muito, ganha pouco, não contesta e é facilmente subsituido.

Da mesma forma que o brasileiro é associado ao sexo, samba, futebol, agora ele é reconhecido mundialmente como o profissional especializado que custa "baratinho"... E abram seus olhos empresas! Se essa cultura for perpetuada serão criados concorrentes em potencial que não têm nada a perder e são altamente capacitados. Não quis contratá-los? Agora é preciso concorrer com eles pelos mesmos clientes.

Existem 3 tipos de profissionais capacitados, os Game Changers, os Games Players e os Game blockers. Os Changers são inquietos, criativos e contestadores. Os Players são os tecnocratas que chegam na hora, saem na hora e só sabem aquilo que foram treinados para fazer.

Os Blockers são os pessimistas que apesar de sua formação acham que nada vai dar certo e só reclamam do emprego. O talento é um Changer, e "gostar de fazer no tempo livre" não vai te ajudar a ser um Changer e sim um Player, um Blocker. Lembre-se que pessoas como Bill Gates, Steve Jobs e Richard Branson não têm diploma, apenas boas idéias e uma irritação constante que os leva a mudar tudo e fazer de novo de uma forma diferente.

"I been working so hard
Keep punching my card
Eight hours, for what?
Oh, tell me what I got
I get this feeling
That time's just holding me down..."

- Kenny Logins (Footloose) -

Goste daquilo com que você trabalha, certifique-se que você sai de casa feliz e volta sorrindo, que você vê seus filmes, lê seus livros não-profissionais, leva seu filho na escola, dorme um pouco mais um dia no meio da semana, passeia sem compromisso, enfim, certifique-se que o trabalho faz parte de sua vida e não é só aquele lugar que você vai todo dia e desliga quando sai de lá.

Pergunte-se, onde você está? Está feliz na sua profissão? Conseguiria ser autônomo? Conseguiria dar uma virada e mudar de profissão? Quer fazer um concurso? Procure qualidade de vida! As possibilidades são infinitas, e por isso termino este texto com uma transcrição do filme Quem Somos Nós (odeio filmes e livros de auto-ajuda, mas esse dá pra engolir):

"Por quê continuamos a recriar a mesma realidade? Por quê continuamos tendo os mesmos relacionamentos? Por quê temos o mesmo tipo de emprego repetidamente? Neste mar infinito de possibilidades que existem à nossa volta, por que recriamos as mesmas realidades? Não é incrível que temos opções e potenciais existentes e não temos consciência deles?

É possível estarmos tão condicionados à nossa rotina, tão condicionados à forma como criamos nossas vidas, que compramos a idéia de que não temos controle algum sobre como direcioná-la? Fomos condicionados a crer que o mundo externo é mais real que o interno. É justamente ao contrário. O que acontece dentro de nós é que vai criar o que acontece lá fora. "

As pessoas querem te ensinar a ser feliz com as coisas que você não pode mudar. E eu afirmo você pode mudar sim, é só se empenhar para ter uma vida melhor e feliz.

Ilustrações de Bill Watterson

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Trabalhando Demais Pra Quê?

quinta-feira, outubro 16, 2008

Este tópico e o anterior se caracterizam mais por considerar o trabalho dos artistas liberais (designers, arquitetos, desenhistas, etc.) e profissionais de informática, mas acho que pode ser absorvido de forma qualitativa por qualquer tipo de profissional liberal. Todos passamos por isso na nossa juventude e quando paramos para respirar o tempo passou e nós nem vimos...

Continuando o tópico anterior sobre querer saber tudo, igualmente existem pessoas que mesmo trabalhando não sabem dizer não. Querem pegar todas as tarefas do mundo, lidar com todas as áreas da empresa, carregar toda a responsabilidade pelo sucesso e pelos erros das metas. Da mesma forma o autônomo (lê-se freelance) resolve aceitar todos os trabalhos que tem disponível, às vezes sem poder fazer, e outras vezes se estressando por ficar até altas horas trabalhando, se movimentando de um local para outro para visitar clientes (muitas vezes distantes) e perdendo um precioso tempo de descanso, de ver tv, de ir ao cinema, de ler um livro (não profissional), de dormir. Será que vale a pena? A ganância vai dar um retorno significativo? Você trabalha demais e cai no "ostracismo corporativo"?

E mais uma vez os "especialistas" da internet (formados ou não) vão te dizer, relaxa! Principalmente se você confia na sua educação, currículo e força de vontade. As possibilidades são infinitas, e se matar de trabalhar só vai afetar a sua saúde. Como dizia na parede de um viaduto aqui do Rio: "O homem perde sua saúde para ganhar dinheiro e depois gasta tentando recuperá-la". Hoje têm-se a possbilidade de ser autônomo (dedicado), de fazer concursos, de trabalhar meio período, o mundo está aí fora para que você faça sua vida sem deixar que o estresse domine o seu dia-a-dia trazendo cansaço, e o cansaço com certeza te impossibilita de crescer. Como diria Domenico De Masi, é o ócio criativo, são os momentos de descanso e de lazer que te fazem pensar melhor, raciocinar, criar, ter idéias.

Para ilustrar a questão, um evento real em um hospício francês. O médico Philippe Pinel resolve tirar as correntes normalmente usadas com os loucos na instituição, então o politico George Couthon diz a ele: "- Ah! Então cidadão, és tu mesmo louco ao querer liberta-los das correntes?". Pinel responde calmamente: "- Tenho a convicção de que estes alienados não são intratáveis senão porque se lhes priva de ar e de liberdade", o que Couthon retruca, "Temo que sejas vítima de sua presunção". Será mesmo? É presunção assumir que o ser humano, sejam quais forem as suas condilões, precisa de liberdade? (e nem vou entrar no mérito da Mais Valia de Marx).

Você com certeza já passou por momentos em que a vida está tão corrida que você não consegue fazer nada (ou até mesmo se atualizar na própria profissão). Você chega tão cansado em casa que não aguenta mais ver o seu programa preferido na TV, você para de alugar filmes pois sabe que vai dormir durante o DVD, não sai na sexta a noite pois sábado você quer dormir até tarde, não sai sábado pois precisa terminar aquele trabalho por fora que você aceitou fazer ou quer estudar para uma prova que só vai acontecer daqui a 6 meses. E aí pronto. Você foi fisgado pela rotina do cansaço. Você não existe mais, quem existe é o trabalho, são os estudos. E não estou nem falando daquilo que você gosta, você pode estar insistindo em algo que você nem tem muito apreço... Este é o recado, faça o que pode, dentro dos seus limites, dê grande valor ao seu tempo livre!

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Saber tudo é impossível!

terça-feira, outubro 14, 2008

Você é um expert na sua área de trabalho? Não importa sua profissão, você já achou que deveria abraçar o mundo? Esta é a sensação pela qual muitos profissionais passam nos primeiros anos após terminar a faculdade (aqueles que decidem por não fazer um concurso público...). Quando comecei a fazer design achava fantástico saber modelagem 3D, design gráfico, design de produto, marketing, projeto (daqueles com MS Project e Mind Manager), entre outras funções relacionadas ao trabalho do designer...

O problema é que descobri que é impossível! Chega um ponto em que a frustração é muito grande. De repente você percebe que sabe bastante de tudo mas não sabe o suficiente, e ainda, perdeu seu lazer procurando milhões de informações e esqueceu que o necessário mesmo era focar em uma atuação e se divertir no tempo livre. E acredite, você nunca vai achar que sabe o sufuciente e tudo vai virar uma bola de neve de ansiedade, neuras e preocupações constantes com o futuro.

Isto é um aviso para quem está começando ou para quem ainda não teve este insight. Se você trabalha com informática, áreas criativas como design, arquitetura, ilustração, publicidade, ou mesmo área de humanas como administração, marketing e psicologia, não perca o rumo querendo saber tudo, não pare para ler livros e artigos de outras áreas de sua profissão por mais de meia hora ao invés de "caçar" coisas que são realmente relevantes para o que você gosta e quer fazer. Pense naquela pergunta de entrevistas: "Onde você se vê daqui a 5 anos?". Você irá descobrir que responder esta pergunta é mais dificil do que você imagina... (a não ser que você seja um freelance muito bem sucedido).

Aprenda o que você precisa, não se preocupe com o mercado de trabalho, uma hora você será chamado por ser o expert daquela área que você escolheu. Se seguir as tendências você irá enlouquecer imaginando o que você ainda não sabe, que tem gente melhor que você, que os jovens com menos de 20 anos sabem muito, etc. Relaxe! Foque! Acerte o ponto e insista. A insistência é a melhor forma de ser o melhor na sua profissão. Saber tudo de tudo não vai te levar a lugar nenhum. É como diz Luli Radfahrer em outro contexto: "Um mundo de abundância é um mundo de escolhas. Quando praticamente tudo é possível, o que faz a diferença não é mais o volume, mas o critério. É isso que os designers modernistas queriam dizer quando proclamavam que “less is more”: menos só significa mais quando os elementos escolhidos têm valor."

Veja bem os seus professores de faculdade e pós-graduação. Eles participam de bancas de centenas de alunos, mas todos têm suas respectivas pesquisas e não ficam estudando sobre o tema de cada aluno para avaliar melhor. Aqui vai meu conselho, seja fantástico naquilo que você realmente gosta! "Se nunca dizes não, o teu sim não vale nada." Mais sobre ansiedades profissionais em: http://saberviver_psicologia.blogs.sapo.pt/tag/trabalho

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Crítica - Valentino, Último Imperador

quinta-feira, outubro 09, 2008

Hoje mais uma vez fui ao cinema numa daquelas investidas a esmo onde não sei exatamente o que eu vou ver até sentar na cadeira. Como está acontecendo o Festival do Rio, isso piora a situação, pois são exibidos dezenas de filmes diferentes todos os dias o que torna imposível lembrar que você viu ou leu alguma coisa sobre um filme. O anúncio dizia, "Valentino, O Último Imperador", e como era o filme que estava começando naquela hora, fui ver esse mesmo.

Achava que era um filme de época como Sissi ou Ludwig, ou poderia ser até algo sobre um chefão qualquer, mas logo no inicio o que vi foi um desfile de moda (algo que até então não me atraía muito)... Pensei logo, "que diabos estou fazendo aqui?", mas logo vi que a meta da produção na forma de documentário era mostrar os últimos dias da carreira do estilista Valentino Garavani antes de se aposentar. O filme mostra a produção das comemorações dos 40 e 45 anos de carreira do artista e a sua relação com sua equipe de costureiras, marketeiros e principalmente seu amigo de longa data Giancarlo Giammetti.

Todo mundo conhece Valentino, mesmo que você não conheça a figura, conhece a marca. Valentino reforça o estereótipo que nós temos sobre estilistas, cabeleireiros e artistas, mas o que fica claro de forma sutil é o estrelismo do estilista ao lidar com suas obras, equié e seu sócio. Não que isso seja um defeito, Valentino é um pouco como eu, nunca acha que seu trabalho está bom o suficiente ou que suas festas estão perfeitas, mesmo quando todos a sua volta estão derramando elogios. No fim ele sempre percebe que tem a sua volta pessoas em que pode confiar, que trabalham para fazer a mais bela das peças, desde iluminação, cenários, roupas, as festas e desfiles se transformam em espetáculos nas mãos de Giammetti.

Mas a mensagem principal do filme é de alguém que nunca desistiu da criatividade, mesmo quando as coisas estavam ruins, Valentino nunca viu sua empresa como uma corporação mas sim como uma máquina de fazer arte. Isso fica claro na luta entre os antigos colaboradores e o novato que quer tratar tudo com números e campanhas de marketing. Valentino e Giammetti cortam a ganância, mesmo depois da venda da empresa, dizendo que o objetivo não são os números, a meta é ser fantástico! E esse deve ser o objetivo de todo profissional. Claro que você precisa de dinheiro para sobreviver, mas você só vai conseguir glória sendo fantástico, e para isso muito trabalho e criatividade já bastam! Eu quero ser um designer gráfico e de produtos fantástico e reconhecido algum dia, assim como Valentino é no mundo da moda: http://www.valentinomovie.com


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Por que não Escrevi e Filmes que vi...

terça-feira, outubro 07, 2008

Tá com preguiça de ler o post todo? Passa direto para os filmes lá embaixo. Otherwise, leia tudo que é bem interessante. Antes de tudo deixo minha tristeza pelo cinema e o mundo da arte ter perdido mais uma grande personalidade este ano, Paul Newman. Minha primeira reação ao receber a notícia foi rever Butch Cassidy and The Sundance Kid. Sempre lembrarei mais de Sir Newman pelo filme Golpe de Mestre (Entertainer, The) que eu via quando era pequeno sem entender nada só para poder escutar a trilha sonora de Scott Joplin...

Muitos me perguntam se não fui mais ao cinema, se não vi mais exposíções, se parei de ler livros, de acompanhar a indústria de entretenimento ou de estudar design, mas afirmo que continuo firme e forte no caminho do espetáculo, criando e vendo criações! Confesso que após o mestrado sofro de um bloqueio criativo, mas o que bateu forte mesmo foi a preguiça de publicar novos posts aqui no blog, coisa que estou consertando hoje mesmo para que todos os leitores que descobri que tenho (pois é, o Google Analytics serve pra alguma coisa) não fiquem chupando o dedo atrás de novas resenhas, novidades e tutoriais (em breve tutoriais bem legais baseados em meus trabalhos conceituais).

Bem, antes de comentar os filmes que vi nos últimos meses, tenho algumas sugestões para quem gosta de arte e entretenimento. Como um bom adulto (será?) parei de comprar gibis, mas infelizmente continuo sustentando os jornaleiros recolhendo revistas de artes e design, nacionais e importadas. Recomendo as revistas Computer Arts Brasil (arte digital), Www.com.br (web, design e desenvolvimento), Photoshop Creative (Portugal), Cinefex (a mais famosa revista de efeitos especiais do mundo), Computer Graphics World (EUA), Computer Graphics (periódico do IEEE) e a fantástica revista nacional Zupi que traz trabalhos maravilhosos de artistas modernos, desde o grafite, pinturas e colagens até o 3D.

Como bom curioso compro também as revistas medianas (com pouco conteúdo de qualidade), entre elas a Digital Designer (que já foi boa mas hoje está sofrível e com "reportagens pagas", onde já se viu fazer matéria sobre um curso em uma universidade específica ou apresentar o tutorial de um software mostrando a embalagem do produto nas páginas?) e a WebDesign (que trás mais propaganda de agências do que informações relevantes). Sinto falta da revista Aqua de natação, mas esportes não são muito valorizados no Brasil a não ser em época olímpiadas né... Acho que eles faliram.

Quanto a livros estou tentando ler até o final o livro Criatividade e Grupos Criativos do Domenico De Masi (tentando pois Domenico é um chato por que até chegar no ponto foco, ele explica desde de o surgimento da primeira ameba na terra) e puxando algumas coisas sobre marketing digital (não custa nada aprender por que está todo mundo errando na internet brasileira... internet é viral meu Deus! Não é catálogo pra ficar online e ninguém acessar!) . Além disso comprei uns livros da série Icons da Taschen na Amazon que são muito legais, mas é só pra ver figura mesmo, trabalhos de artistas do mundo inteiro.

Quanto ao mundo do entretenimento (lê-se TV e internet), escutei novas bandas, fiz downloads, descobri coisas que todo mundo já conhecia, ouvi o álbum novo do Metallica, redescobri John Scatman, Tom Cochrane, Roy Orbinson e Concrete Blonde e ainda vi algumas séries, com destaque para Chuck, Tudors e Masters of Horror (excelente série de horror com episódios dirigidos por diretores famosos como Dario Argento, George Romero, John Carpenter, Joe Dante, John Landis entre outros).

Depois disso tudo ainda arranjo tempo para brincar com meu cubo de Rubik (o cubo mágico matemático colorido, lembra?) e pra ver a exposição BodyWorks no Museu Histórico Nacional. Mas o que vocês estão curiosos para saber são os filmes não é? Pois a lista é grande e este post já está enorme portanto vá direto para as minhas opiniões abaixo (um pouco distorcidas pois pelas datas dá pra perceber que muitos detalhes do momento eu esqueci).

11/09 - Ao Entardecer (Evening, 2007)

De vez em quando algum diretor(a) resolve fazer um filme com diversas atrizes do primeiro escalão de Hollywood como Glenn Close, Meryl Streep, Vanessa Redgrave, Mia Farrow, Anjelica Houston e as mais novas que já se tornaram clássicas como Toni Collette, Natascha Richardson, Claire Danes, Natalie Portman, entre outras. Este filme trás mais uma vez esta fórmula trazendo algumas destas atrizes intepretando as mesmas personagens em épocas diferentes.

O que o filme traz é a pergunta que muita mulher deve se fazer na vida adulta: "-e se eu tivesse tentado ser feliz com o cara que me amava de verdade ao invés de escolher o caminho errado com outro, o caminho da sedução, da conformidade e das escolhas da juventude?". O filme mostra uma mulher que sofre por ter feito esta escolha mostrando que apesar de todo conforto, bens materiais, aparência e segurança que suas escolhas deram pra ela, ela nunca foi realmente feliz em nenhum de seus relacionamentos. O pior é que a pessoa que mais podia amá-la incodicionalmente, enfrenta um problema na juventude que irá impedir que ela o encontre novamente.

Vale muito a pena ver o filme, principalmente pela bela Claire Danes com roupas de época, uma época e lugar onde eu gostaria de ter nascido... As veteranas do cinema também estão impecáveis muitas vezes fazendo-nos esquecer que a personagem envelheceu, pois os trejeitos da atriz jovem e das clássicas são muito parecidos. Não recomendo ver nenhum filme em DVD em casa, se puder assista no cinema para aproveitar o máximo da fotografia e closes do filme.

28/08 - O Procurado (Wanted, 2008)

Quando disse que parei de ler revistas em quadrinhos, quis dizer de super-heróis. Claro que ainda leio os clássicos e a produção alternativa, e tive a felicidade de conhecer O Procurado primeiro nas páginas do gibi de Mark Millar. Apesar de manter apenas o tema, trocando a maior parte dos pontos da história, Procurado é um filme muito bom, entretenimento despretensioso, passatempo divertido e mentiras aceitáveis e incríveis de se ver na tela grande. A única coisa que estraga um pouco é a mania de Hollywood de usar heavy metal nas cenas de ação no lugar das trilhas sonoras instrumentais, e também a narração em off de James Mcavoy. Se não fosse isso seria perfeito. Mas vale a pena verm, principalmente se você vai ao cinema ou tem um bom sistema de som em casa. Atenção para as dezenas de referências no filme.

21/08 - Encarnação do Demônio, A

Quando era pequeno costumava ver os filmes de Zé do Caixão nos canais da TVE ou na madrugada, uma vez que meus pais não implicavam comigo ao ficar acordado até tarde. Devo ter visto os primeiros filmes quando tinha 11 ou 12 anos, e ambos me impressionaram bastante e até hoje quando vejo acho que o cinema brasileiro tinha um grande potencial que foi largado de mão na década de 70 para dar lugar a porcarias e diretores pseudo-intelectuais metidos a artista.

Não vou negar que a produção do filme me impressionou. As locações foram muito bem feitas, a fotografia é mutio boa, os ângulos de câmera surpeendem e mesmo os efeitos especiais são dignos de um episódio da série Masters of Horror. Mas como todo o filme brasileiro produzido em maior parte aqui, por pessoas daqui, a película sofre de alguns males, principalmente na interpretação falsa, forçada, sem graça e risível dos atores (incluindo Mojica). É um show de palavrões, frases feitas (forçadas demais para parecer real), jograis, interpretação de prompt (aquela que parece que o ator tá lendo um prompt que nem Jornal Nacional) e figurinos muitas vezes forçados para simular aspectos de terror do cinema americano (sem sucesso).

Vale a pena ver para conhecer o trabalho de efeitos visuais, cenários e edição, mas não serve como entretenimento. Zé do Caixão não é mais o mesmo, adoro os filmes antigos dele mas está na hora de aposentar a cartola. Acho que nós espectadores já estamos de saco cheio de diretores que passaram anos fora da cadeira e agora resolvem voltar achando que vão abafar (uma crítica construtiva a Mojica e George Lucas, experts em estragar seus personagens mais famosos).

18/08 - Star Wars: Clone Wars

Não vou negar que adoro animações. A cada ano as animações impressionam até mesmo nós artistas que trabalhamos com isso todo dia. Claro que existem níveis artísticos e também níveis de conteúdo, e esta diferença pude ver claramente no último Anima Mundi, principalmente ao ver os trabalhos de Juan Pablo Zaramella que são simples mas incrivelmente bem resolvidos com conteúdos de primeira.

Clone Wars é mais uma tentativa de George Lucas de negligenciar todas as suas idéias da época da USC (University of Southern California) para ganhar montanhas de dinheiro em cima de nerds e crianças. Lucas defendia na sua juventude os filmes artísticos, as histórias elaboradas e a independência, entretanto se entregou a indústria da pior forma possível, visto os 3 filmes do prelúdio de Star Wars que seriam totalmente repugnantes se não fosse o trabalho de artistas de design e figurino como Doug Chiang.

Isso não torna este filme ruim. O filme é uma introdução a série de desenhos do Cartoon Network e deixa isso bem claro por não ter começo, meio e nem fim. A animação parte do episódio II de Star Wars e mostra os Jedis tentando resolver um problema político desencadeado pelo General Dooku quando este sequestra o filho de Jabba, The Hutt. A história do desenho é bem melhor que a dos 3 primeiros filmes live-action da série, não sei nem por que fizeram essa escolha uma vez que torna as intrigas políticas mais evidentes, coisa que criança não entende. É bom ver que a história chegou a este ponto de mostrar algo realista em relação às maquinações de políticos, militares, gangues, corrupção e os próprios Jedis servindo como uma "polícia" do espaço.

O melhor na animação é a estética. O desenho é muito bonito mesmo, cada cena é de tirar o fôlego em termos de excelência artística. Os traços são estilizados na medida certa e os shaders e texturas utilizados na renderização dos modelos 3D dá um visual de uma pintura, bem parecido com livros infantis e desenhos de animação dos anos 80. Vale a pena ver Clone Wars mesmo que voê não goste da série, aproveite e leve seus filhos ou sobrinhos como desculpa para apreciar um dos melhores trabalhos de arte do ano. "May the force be with you".

13/08 - A Múmia 3: A Tumba do Imperador Dragão

Se você tem mais de 10 anos, não vá ver esse filme. Não que o filme seja ruim, mas provavelmente é um filme que você só aproveitaria com gosto se fosse ainda criança. A quantidade de clichês é assustadora, como descreveu um crítico do site Omelete: "O espectador consegue ver na sua frente os templates sendo preenchidos: entra cena de ação (explosão, frase engraçada, troca de tiros, frase engraçada), corta para elemento dramático (imperador ganha poderes de volta, coadjuvante explica em voz alta "o imperador está ganhando seus poderes de volta!"), fecha cena de ação (começa a avalanche na montanha, coadjuvante explica em voz alta "avalanche!"), corta para transição de set pieces (todos inexplicadamente a bordo de um avião), começa a cena de ação seguinte, e assim por diante.".

É como filmes tipo Massacre no Bairro Japonês ou o O Último Dragão (mesmo que os entusiastas queiram me enforcar, é verdade, vocês nunca achariam estes filmes fantásticos se tivessem visto pela primeira vez com mais de 20 anos). Mas com certeza seus filhos e/ou sobrinhos vão adorar, lembrar pro resto da vida e ainda te pedir para comprar bonecos de Rick O'Connell (Brendan Fraser, mais uma vez usando sua famosa peruca para esconder a calvíce). Teve muita coisa desnecessária como os Homens da Neve, as transformações do imperador em monstros de seriado japonês e mesmo o filho canastrão de Rick, mas vale a pena como passatempo caseiro. Os efeitos são um show a parte apesar de utilizados desnecessariamente. Lembre-se que eu vi este filme a 2 meses e ainda não havia comentado, por isso posso ter esquecido muita coisa.

04/08 - A Banda (Bikur Ha-tizmoret, 2007)

Vou ser sincero que desde que vi Gosto de Cereja, tenho um preconceito contra filmes vindos do Irã, Iraque, Egito ou Israel. Não que as histórias sejam ruins, pelo contrário, são extremamente originais e criativas, entretanto os filmes destes países possuem um estilo narrativo mais chato que propaganda eleitoral... É super parado, demora para acontecer alguma coisa, fica horas mostrando uma mesma cena, como se quisesse dizer que isso é "arte", que isso é para fazer o espectador "refletir" (conversinha intelectual de cinéfilo idiota que anda de aro grosso e gola rolê). Mas A Banda realmente me surpreendeu.

O filme narra a história de uma banda de músicos egípcios que viaja para Israel para tocar na comemoração de abertura de um centro árabe de artes. Porém o transporte não é enviado para a rodoviária eles são obrigados a encontrar a cidade de destino por conta própria, desta forma se perdendo e acabando em uma cidadezinha entregue às moscas e à personagens intrigantes e bem comuns que mostram o caráter, comportamento, felicidade e arrependimentos do ser humano.

O ator Sasson Gabai interpreta de forma fantástica o general, e sua relação de amizade com a dona do boteco (Ronit Elkabetz) da pequena cidade garantem os melhores momentos do filme. Os coadjuvantes também estão excelentes, garantindo boas risadas, cenas cômicas, drama e lágrimas. Uma boa metáfora sobre a esperança de um dia ver a união entre os povos daquela região. E como curiosidade nerd, Sasson Gabai não é um total desconhecido, o ator interpretou Mousa no filme Rambo III ao lado de Sylvester Stallone. É dele a famosa frase em Rambo: "God must love crazy people, he makes so many of them!". Não percam A Banda!

* As imagens reproduzidas são de direito dos respectivos artistas e estudios não podendo ser reproduzidas com fins comerciais a não ser na divulgação do trabalho. As imagens serão retiradas se requisitado pelos artistas e estudios.

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