Crítica: 2012

sexta-feira, dezembro 25, 2009

Não, não foi para testar novas tecnologias, e nem para apresentar um novo clássico, 2012 é ruim. Ruim em diversos aspectos. A quantidade de clichés cinematrográficos é tão grande que chega-se ao ponto em que fica impossível contá-los ou listá-los. Fui ver 2012 no dia em que tentei ver Avatar, mas descobri que as sessões de Avatar estavam todas lotadas. Pelo marketing entorno da produção, você acaba ficando curioso para ver o que mais um filme catátrofe de Roland Emmerich pode lhe trazer.

O filme começa como todo filme blockbuster feito para o senso comum. Um grupo de cientistas, como no "Dia em que a Terra Parou" com Keanu Reeves, abre o filme descobrindo a catástrofe iminente. No início eles não acreditam, mas quando vêem que a coisa é séria tentam convencer o governo, mas ninguém acredita de primeira. Após convencê-los, por coincidência (e para acelerar o filme) há uma reunião do G8 em andamento. Agora o presidente americano pode anunciar aos líderes mundias que o mundo vai acabar, no melhor tom dos grandes pioneiros e pastores americanos, um discurso a lá Independence Day.

Segue a introdução dos personagens que criam a empatia com a história (alguém lembrou de Syd Field?). Por enquanto nada aconteceu, a não ser rachaduras nas ruas que assustadoramente perseguem os carros exatamente na direção para onde se dirigem. De repente, quando o presidente resolve falar na TV, aí sim a Terra fica zangada e começa a destruição de verdade (pô senhor presidente, que papelão!).

Nisso seguem diversas frases de impacto como "Hoje salvamos o mundo", "Hoje a humanidade se despede" e outros clichés do discurso de filmes para as massas. Milagrosamente a energia em todos os Estados Unidos não caiu, todos estão com as luzes acesas, usam seus notebooks sem economizar energia e conseguem se comunicar por celular com o mundo inteiro, mesmo sem antenas. Um viva para os satélites!

Como se sabe, o mundo não vai acabar de verdade. Os maias, por acaso, só escreveram seu calendário até 2012, mas nunca disseram que seria o fim do mundo. De repente quando Cortez (ou foi Pizarro?) chegou para destrui-los, não deu tempo de fazer 2013? A realidade é que ninguém fala de fim de mundo neste ano em específico. Tomara que não achem no futuro aquele calendário legal na caneta colorida que eu tinha quando criança, pois ele só vai até 2040!

Quando 2012 começa eu pensei estar vendo Guerra dos Mundos de Steven Spielberg, com Tom Cruise. O pai separado que tem que cuidar dos filhos nos finais de semana. A filha adora o pai mas o filho mais velho odeia. No decorrer do filme eles vêem que têm muita coisa em comum e fazem as pazes. O herói faz as pazes com a ex-esposa e todos vivem felizes para sempre pois a tragédia acabou milagrosamente.

Depois pensei peraí, não é Guerra dos Mundos, é The Cosby Show! Nada contra, o bisavô da minha mãe era afro-brasileiro casado com uma mulher branca, mas colocar todo o elenco de "líderes do filme", todos como afro-americanos? Por favor expliquem o porquê. Por causa da eleição do Obama? Não sei... Sei que é a terceira vez que vejo a cara de Danny Glover suja de pó branco (a primeira foi em Máquina Mortífera e a segunda em Predador II).

Quando fazia arte sequencial (lê-se quadrinhos), normalmente guardava uma caixa de imagens de referência para desenho de pessos e objetos. A impressão que tive ao ver 2012 é que pegaram essa caixa de referências e simplesmente usaram para fazer um filme. Lembra daquelas mesmas imagens que aparecem em todos os filmes catástrofe, por exemplo, muçulmanos rezando em Meca ao redor do cubo, multidão no Vaticano, judeus no muro das lamentações, não é brincadeira, as imagens são exatamente as mesmas em todos os filmes, para dizer que a população mundial se uniu contra a tragédia.

Agora vamos a alguns bloopers. Na India, o amigo de Adrian Helmsley estuda a movimentação das placas tectônicas com computadores altamente sofisticados enfiados em uma mina, com um pequeno ventilador branco em cima da mesa, enquanto o cientista-chefe coloca gelo nos pés! Meu Deus, os computadores têm coolers alienígenas? Como são refrigerados? E os computadores com interfaces complexas de globos em 3D que se atualizam em tempo real? Onde eles arranjam esses brinquedos maravilhosos? (citando Coringa). E na decisâo de abrir as portas, os americanos sâo os ùltimos a decidir fazer a coisa certa.

Outra coisa que me incomoda é por que o personagem de John Cusak nunca jogou na loteria federal americana. Quando o chão está desabando no último segundo o avião sobe. Quando o viaduto está caindo, no último segundo o carro passa, quando o trailer cai no buraco, no último segundo ele pula! Meu Deus cara, vai pra Las Vegas! Será que não podiam pelo menos ter disfarçado isso né? E fala a verdade, a garotinha usou fraldas no início do filme só como pretexto para fazer a piada de fechamento da produção...

Parabéns também à equipe de product placement que não tentou esconder nada. A Sony deve ter pago um dinheirão para que todos os notebooks no filme fossem Sony Vaio. Não vou nem falar do carro Bentley. Aliás, quanto a Globo pagou para aparecer no filme? Para piorar todo termo americano foi traduzido como algo "familiar" à cultura brasileira, o que soa ridículo (trocar Kumbaya por "cantar um coro"), já é tempo de estarmos familiarizados com os termos usuais dos filmes que vemos, não precisa inventar termos abrasileirados.

Filmes encomendados à parte, os efeitos especiais são muito bem feitos, é fantástico ver toda a destruição tão bem produzida pela equipe de pós-produção (com exceção dos cromaquis - fundos verdes - quando os atores estão em cena, principalmente viajando de carro, muito mal feito). Não vejo a hora de receber minha revista Cinefex para ver como foram feitas as cenas de desabamento.

O que ainda me incomoda nos efeitos de certos filmes como este e Avatar, é o uso de técnicas de renderização de radiosidade e/ou tipo v-ray que fazem com que todas as cenas de efeitos tenham um tom escurecido, acinzentado e com sombras exageradas. Você nunca vê uma cena de efeitos em campo muito aberto, muito de perto e/ou com luz do sol muito evidente. Isso iria deixar o visual de 2012 com cara de Toy Story.

Minha reclamação vai mais uma vez à equipe do Cinemark Botafogo que estava extremamente desorganizada neste dia pois não conseguiram administrar a quantidade de pessoas nas salas de cinema para ver o filme Avatar.

Poucos funcionários e medo de que pessoas entrassem em salas sem pagar fez com que fossemos enviados a porta de emergência para sair pela parte de trás das salas, sem ninguém da rede Cinemark para nos guiar pelas escadas. Tinham velhinhas nas salas com netos que estavam com dificuldade de descer as escadarias e diversas pessoas perdidas sem saber como sair no mesmo andar em que estavam. Cinemark está cada vez mais piorando os seus serviços, esta minha experiência foi péssima.


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