Poesia - Retrato

sábado, fevereiro 21, 2009

Este texto escrevi quando realmente esqueci

Na velha caixa de balsa, perto de muitas canetas e lápis de colorir, jazia ela em silêncio. Meio desbotada, com as pontas rasgadas, cabeças cortadas e estampas antigas, ela chamou de volta aquele que um dia a amou. - Lembra de onde eu estava? - Perguntava ela. E mesmo assim recusava-se a escutar a loucura daquele pedaço de papel. – Ei, olha pra mim... – Novamente. Não resistiu..., não reconheceu.... Olhou alguns segundos e suspirou. Levantou e esqueceu. - Por quê eu? – Perguntou a si mesmo.

Continue sua arrumação perante a poeira e as roupas velhas! Lembrou-se do local. Sim. Um dia, muitos anos atrás, havia estudado naquele local. Um curso. Sim. Uma daquelas coisas que a gente faz pensando no futuro...o futuro...quantas chances, quantas mágoas, quantas oportunidades perdidas! Mesmo assim foi maravilhoso. Por quê? Reflete. Procurou encontrar respostas para a felicidade. Retornou à caixa de balsa e olhou os rostos.

Quem está comigo ali? Quem esteve comigo antes? Quem me acompanhou...O futuro... Ali estava o futuro. Não, não, digo, o futuro de agora, mas o futuro naquela época... As esperanças, sonhos, amores, ansiedades, medos...PARE!!! Puxa, são tantas coisas...eram tantas coisas... Agora me lembro de você pedaço de papel. Me lembro do dia, me lembro da hora e do local...sabe, me lembro até do que aconteceu antes de eu chegar lá...

As imagens vêm aos meus olhos desbotadas e azuladas, como você papelzinho..., papelote, papelão...mas que papelão. Juro que não vou chorar. Naquele dia, não trabalhei. Fiquei em casa, angustiado para que o relógio me dissesse o momento certo de dizer adeus ao corredor da sala. Esqueci livros e canetas, mas sabia que não importava. As escadas, os corredores, o professor, o intervalo, PARE!! A cabeça dói...não quero lembrar. Mas lembrou.

Lembrou por que não havia como não recordar...- suspiro - ... azulada, desbotada, estampas antigas e pontas rasgadas, ela estava ali. Com os pés cortados, olhos vermelhos e o brilho do flash no rosto, eu lembrei dela. Talvez nem o tempo, nem minha mente que já me falha e nem o amor de meus netos possam arrancar as lembranças das melhores semanas da minha vida.

Este retrato? Bem, este retrato não tem nada...por um descuido meu, deixei a máquina ligada e apertei o botão sem querer...Que magnífica foto do assoalho! O assoalho...a janela...o quadro negro...é papelzinho, você não quer me mostrar...mas ela estava ali...ela estava ali...

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