Crítica: Bastardos Inglórios

segunda-feira, novembro 02, 2009

Um bom artista sabe diversificar suas obras, ou seja, se sente bem com um novo "produto", algo diferente que possa lhe trazer experiência. Na minha profissão é ótimo fazer o design de sites de e-commerce tanto quanto é bom fazer um site para uma rádio, entretanto, manter-me nos e-commerce geraria uma estagnação das idéias a ponto de criar o vício em técnicas, referências, etc.

Bastardos Inglórios não é um filme ruim, é um “Tarantino” da melhor qualidade, mas não é possível deixar de ver uma cena sequer sem se perguntar: É Pulp Fiction? É Cães de Aluguel? O filme dividido em atos, acontecimentos não-lineares, a mulher que quer vingança, a música a la Ennio Morricone, o diálogo canastrão (em interpretações memoráveis e engraçadas), tudo está lá para você ver de novo.

Bastardos Inglórios conta a história de um grupo de soldados americanos descendentes de judeus que, como os boina verdes no Vietnam, entram em território inimigo com alguns poucos homens para uma missão suicida, neste caso, matar 100 alemães cada um. Ao mesmo tempo uma mulher judia, sobrevivente do massacre de judeus na França, se esconde em um cinema sob outro nome enquanto prepara uma vingança inesquecível para aqueles que mataram sua família. O destino de todos irá se cruzar de uma forma tragicômica que irá surpreender até Joachin Fest.

Ter um Tarantino novo nos cinemas é tão excitante quanto saber que Woody Allen, Almodovar ou Steven Spielberg estão lançando um novo filme. São diretores que costumam acertar em 80% das vezes (senão mais), independente se você acha um mais “comercial” que o outro. Cenas e frases viram cult, viram jargões, entram para a história. Mas e se você tem mais do mesmo?

Diria que isso é um problema, mas no caso destes diretores, a fórmula parece dar sempre certo. Você sabe o que vai ver a seguir, mas você não liga. Da mesma forma, os atores milionários também não ligam e lutam por uma vaga nas produções independentes ou de baixo orçamento de diretores consagrados.

Quem me conhece sabe que sou um admirador da cultura alemã e fiquei muito feliz em ver atores conhecidos do cinema alemão e austriaco como Christoph Waltz, Daniel Bruhl (de Edukators e Adeus Lenin),Til Schweiger (de Agnes e Seus Irmãos), Gedeon Burkhard (o inspetor de policia do seriado Kommissar Rex) e Christian Berkel (que interpretou nazistas em A Queda, Operação Valquíria, Milagre de Saint'Anna e agora Bastardos Inglórios).

Não obstante, ao lado deste fantástico elenco germânico estão pequenas estrelas da tv americana contracenando com um Brad Pitt fanfarrão, em um papel memorável. Destaque para B.J. Novak, astro da série remake The Office com Steve Carrel. E para mais uma vez firmar minha crença, Melanie Laurent aparece em tela provando que as mulheres francesas são mais naturais, mais bonitas, mesmo sem maquiagem e despenteadas

Clichés "tarantinescos" a parte, Bastardos é um exercício dentro de um gênero que está sem criatividade desde que O Resgate do Soldado Ryan chegou aos cinemas em 1998. Não que seja algo novo, é o Quentin de sempre, mas ver guerra ao estilo Quentin, Luciano Vincenzoni, Sergio Leone e John Ford, não tem preço. Chega de câmeras pulando, películas desbotadas e recrutas gritando pela mãe, os Bastardos querem se vingar, ver sangue, tortura, escalpos, sem pedir para voltar para casa (e tudo ao som de David Bowie).

Claro que nenhum oficial do socialismo nacional iria agir como Christoph Waltz, mas assim como em O Grande Ditador ou Primaver para Hitler, é ótimo ver um nazista bem-humorado com sua própria condição de carrasco, lutando para sobreviver, não importa de que lado esteja.

Uma das cenas finais com Brad Pitt e Waltz ao rádio com o oficial americano é uma escola de teatro. Aliás, que me desculpem aqueles que não falam inglês (ou que não gostam de legendas), mas os sotaques e as entonações caricatas são 80% da diversão.

Trazer de volta esta "fanfarronice" nos diálogos, típica dos filmes da década de 40 e 50, foi uma ótima idéia para Bastardos. Até mesmo o aspecto sedutor de mulheres como Lauren Bacall está presente no último ato, na interpretação de Melanie Laurent. O queixo de Brad Pitt a la Marlon Brando é outra caracteristica sensacional da construção do personagem.

Enfim, assim como em Benjamin Button, não espere algo diferente (Button teve o mesmo escritor de Forrest Gump e isso ficou escancarado na tela), mas acredite, você vai se divertir muito, rir, torcer, ficar com raiva e até mesmo gravar algumas frases para o seu repertório. fique agora com a crítica de Isabela Boscov.


Um comentário:

Anônimo disse...

Acabei de voltar do cinema e estou ate agora em extase. A excelência causa arrepios em vc? em mim é assim que identifico qdo alguma coisa é boa. Filme, musica, peça de teatro... Arrepios, boca aberta, risos, tensão... Td o que vc quiser do cinema com qualidade está em "Bastardos". Sim, valeu esperar por mais um Tarantino. FENOMENAL! (Carlos , Salvador BA)

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