Crítica - Sombras: Cassavetes

domingo, novembro 16, 2008

Hoje vi três filmes no cinema (pra variar), e nenhum dos três me decepcionou. Começo pelo último pois foi o mais curioso. Sombras (Shadows - 1959) foi um dos primeiros filmes de John Cassavetes, um ator que nós que somos mais novos reconhecemos melhor pelo seu trabalho de ator em O Bebê de Rosemary e na série sessentista Viagem ao Fundo do Mar (que passa na TV a cabo). Alguns ainda lembram de Whose Life Is It Anyway?, filme de onde o comediante Drew Carey tirou o nome para o seu programa de tv.

Sombras não possui um roteiro bem definido, e isso se percebe logo nas primeiras falas do filme. As interpretações soam falsas, a movimentação um pouco caricata e os takes um pouco nervosos e acelerados. Na medida em que o filme avança, esquecemos a falta de roteiro para prestar mais atenção na evolução que o filme trás ao longo de 81 minutos de descoberta cinematográfica. Descoberta sim, pois ao final do filme Cassavetes revela que toda a película foi uma improvisação. Isso mesmo, é claro na passagem do tempo o desenvolvimento da intepretação, a interação entre os atores, o conforto na frente da câmera, e da parte da produção vê-se que a câmera passa a ser mais forte, quase que como mais um personagem da cena que de repente se habituou a conviver com aquelas personas. Esta passagem é um show a parte.

Basicamente o filme não tem uma história, mas gira em torno de 3 irmãos (02 jovens e 01 garota) que tentam passar o seu dia-a-dia da melhor forma possível. A garota, a mais nova, busca um amor sincero e confiável, mas ao mesmo tempo gosta de provocar os homens. O irmão mais velho é um cantor cuja fama aos poucos decai na medida em que novos shows mais populares são apresentados nos cabarets. O irmão do meio é um trompetista de jazz que adora farrear com os amigos mas vê seu ganha pão indo embora por causa da forte ascensão do rock'n'roll nos bailes da cidade (mostra de forma implicita esta passagem dos jovens que largaram as danças com as bands de jazz para dançar o rock e o twist). Os irmãos ainda tem que lidar com o preconceito racial e os males da cidade.

Outra coisa legal foi que só haviam 3 pessoas na sala (contando eu) e o técnico do cinema demorou a colocar o filme. Como a sala 02 do Estação Botafogo é pequena, levantei e fiquei olhando lá pra trás onde o técnico pegou aquele rolo enorme de filme, observou os fotogramas, colocou na máquina e botou pra rodar! Pura nostalgia que só os filmes mais antigos podem trazer. Ver aqueles milhares de quadros no rolo de filme pra mim já valeu o ingresso.

Dificilmente você vai ver este filme no cinema com esta facilidade que eu tive, mas vale a pena baixar (duvido que você consiga alugá-lo) e fazer uma sessão meio "cinemão dos anos 60". Fico pensando também onde estão hoje esses atores, todos tinham aqueles rostos jovens e agora estão velhinhos, mas será que estão atuando? Será que estão vivos? Mais uma curiosidade, John é pai de Nick Cassavetes, diretor de filmes bem atuais como Alpha Dog.



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