Crítica: Bons Costumes

sexta-feira, novembro 06, 2009

Parece que os melhores filmes que vejo sempre são aqueles que eu descubro quando vou ao cinema sem intenção, sem planejar, de surpresa. Hoje tive que esperar alguns amigos por duas horas e para matar o tempo resolvi entrar no Espaço de Cinema do Grupo Estação para ver Bons Costumes (Easy Virtue), um filme de época na melhor tradição inglesa.

Eu tinha duas horas, portanto tinha que ser o filme que estivesse começando naquele minuto. Li no cartaz que era com a Jessica Biel e comprei meu ingresso (Jessica não teve lá um inicio de carreira muito bom, mas por que não testá-la mais uma vez se O Ilusionista foi tão bom?).

Apesar de desde meus 8 anos de idade a minha relação com o inglês ter sido 80% dentro da cultura americana, me fascina o jeito inglês do inicio do século 20. A pomposidade, o sotaque aristocrata e é claro, as mentes livres que ousavam transgredir a sociedade (muito comum nos E.U.A., mas raro em terras britânicas). Este filme não tem nada de novo. Você já viu a aristocracia inglesa em diversos filmes, Adorável Julia, Howard's End, Muito Barulho por Nada, mas é sempre um prazer ver no cinema interpretações dignas de palcos shakesperianos e fazendo valer tudo o que Stanislavski escreveu.

Você vai ver o choque da cultura americana free spirit, a mãe manipuladora (pode-se dizer que a sociedade inglesa era matriarcal por suas rainhas?), as "irmãs de Cinderela" que nunca conseguem nada e são vencidas pela outsider, e o marido infeliz que é indiferente (mas não covarde) aos problemas do orgulho besta do restante da família.

Há muito tempo aguardava ver Dorian Grey com Ben Barnes (o príncipe Caspian de Narnia) e Colin Firth, mas velos juntos em mais um filme foi uma boa surpresa. Kristin Scott Thomas (A Outra - Boleyn Girl) deixa de lado o papel da mulher bonita sedutora da década de 90 e amadurece em papéis que até então eram dados para mulheres como Helen Mirren. O elenco de apoio, criados, vizinhos, trazem um toque de humor e de sarcasmo digno dos melhores textos de Oscar Wilde.

Não preciso nem falar muito de Jessica Biel. São aqueles filmes que te fazem perguntar se essas mulheres são assim mesmo na vida real. Um deleite visual ver as roupas de época no corpo curvilíneo da namorada de Justin Timberlake.

O filme valeu cada centavo (ainda mais agora sem carteira de estudante), e eu ainda saí do cinema pensando em tudo o que eu posso usar para forçar meu sotaque britânico. Um respiro em meio aos blockbusters que vi essa semana. Rosane Gofman, Tablado e CAL que me perdoem, mas se um dia os atores brasileiros não alcançarem esta excelência, tanto no talento quanto no ensino e aprendizado, sempre teremos os "atores de novela" fazendo cinema e teatro sem ter a mínima noção do que é interpretar para um público que quer mais cultura, e não mais do senso comum que atrai massas.


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