Crítica: Distrito 9

sábado, novembro 07, 2009

Quando fiz mestrado tive um professor chamado Ronaldo. O Prof. Ronaldo fez com que nós fizéssemos um exercicio em ergonomia chamado "Caminhada da Empatia". A caminhada da empatia consiste em uma entrevista informal e amiga com alguém fora de sua realidade, social, cultural, emocional, etc. Esta pode ser uma prostituta, um morador de rua, um travesti, um refugiado, um morador de bairros perigosos, qualquer um cujo choque de realidade seja suficiente para mudar sua forma de pensar em relação ao outro, sobre aquelas coisas que você acha que aquelas pessoas são ou fazem.

Distrito 9 é um filme político. A novidade foi trazer a ficção científica para falar abertamente sobre o que podemos ver em qualquer país, inclusive no Brasil. Seja o medo daquilo que é "estrangeiro", o descaso com o que não nos afeta ou a perda de civilidade de um grupo que perdeu as esperanças dentro de um universo contra o qual eles não conseguem lutar.

Não é só contra grupos marginalizados. Quando sento em uma mesa com amigos mais tímidos, ou que não conhecem ninguém, puxo estes para dentro da conversa, nunca os deixo deslocados, mas creio que essa "marginalização" do próprio "amigo" acontece com muita gente sem mesmo perceberem. A própria empatia de uma autoridade menor, como um policial de rua, com um individuo pobre, mostra como a truculência pode sair ao controle (Zimbardo em Stanford que o diga, será que amizade depende de uma situação de igualdade? Não se pode ser amigo do diferente? Do menos hábil?).

Distrito 9 trata de uma nave alienígena que quebra em cima da cidade de Johannesburgo na África e paira por 3 meses até que o governo decide abrir suas portas lacradas. O governo descobre entãio que estão diante de quase 1 milhão de seres em más condições pois por 3 meses não tiveram comida, energia, produtos de higiene, como náufragos em terras desconhecidas. As autoridades decidem trazê-los para o chão e cria um assentamento embaixo da nave.

Aos poucos o assentamento se transforma em uma enorme favela descontrolada, grades e muros são colocados no entorno, a violência é enorme, a criminalidade se acentua. Para resolver este problema o governo decidade que fará um reassentamento dos alienígenas em outra região, mas para isso tem que despejá-los e deslocá-los, o que não é de interesse dos ETs. Ao bater de porta em porta na favela junto a uma tropa de choque, o chefe da operação entre em contato com uma substância diferente é daí começa a ação.

Atenção, SPOILERS. Como pode se ver no filme, a empatia só aconteceu no momento em que um humano começou a se transformar em um dos seres oprimidos. Todo o preconceito e pré-conceitos sumiram dando lugar a uma guerra por proteção aos direitos, um sentimento que creio eu muitos sentem ao decidir proteger o próximo.

Um bom exemplo são mães de classe média alta da zona sul carioca se juntando a mães pobres da Vila do João por que ambos filhos sumiram ou foram mortos por causa da violência. A empatia, a consciência da existência parece só ser percebida quando precisamos passar pelas mesmas emoções de perda.

A mensagem do filme é muito boa, mas esteja avisado que o filme é extremamente violento. E não podia ser diferente. A violência não é gratuita, ela é contextual e, sem quere entrar no mérito de citar Anna Freud e Edward Bernays, o maior medo do governo americano pós depressão e no pós-gerra, era que a população saísse de controle por causa de ansiedades, depressão, tristezas, o American Way of Life foi um produto de pesquisas onde foi implantado um sistema comportamentalista para que o americano comum estivesse feliz com sua condição, apoiasse o governo, apoiasse o crescimento.

Isto não é um discurso Marxista (odeio intelectual de botequim), mas se você ver (ou baixar na internet) documentários de Adam Curtis, vai ver que isso foi real e bizarro. Como controlar uma população que pode ficar descontente e sair do controle, sem necessariamente ter que gastar dinheiro com eles? Pela força? Julgando criminosos somente pela "falta de caráter"? Parece que as autoridades e senso comum acham que sim.

Você começa o filme simpatizando com a própria raça, no meio fica na balança, mais para o final fica do lado dos aliens e no final do filme torce para que Peter Jackson produza a parte II e Christopher volte com seu filho após 03 anos para resgatar seus compatriotas.

O filme não é tão bom assim, é um típico filme com uma idéia excelente e um encadeamento ruim. O chefe da operação parece mais um personagem de Sacha Baron Coen e os alienigenas são nojentos e rápidos demais para ajudar o espectador a compreender melhor a cena sem se preocupar em perder a história ou virar o rosto.

SPOILER - Se não bastasse isso, ainda tem o exoesqueleteo da tenente Ripley, ou um mecha de Ex-Machina no final do filme. Também não me agrada muito este conceito artistico de todo alineígena ter que parecer um inseto e ser nojento (foi feito para ampliar a repulsa do espectador que fica na balança?). O filme também me lembrou o mexicano La Zona de Rodrigo Plá por causa da expansão da favela e isolamento do problema.

Bem, em Hollywood nada se cria, tudo se copia. Nota 10 por terem escolhido Johannesburgo como locação. Manteve os curiosos longe das filmagens, usou pessoas da região e conseguiu transformar o filme em surpresa, algo que em Hollywood é quase impossível hoje em dia com todos os papparazi, jornalistas, curiosos, fãs e outros que estragam a emoção do boca-a-boca que existia nos anos 70 e 80.


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