Que faz o Produtor de Cinema?

sábado, janeiro 24, 2009

É fácil para todos nós descrevermos o que faz um ator, mesmo sem conhecer as artes dramáticas. É até fácil, até certo ponto, dizer o que faz o diretor do filme, o diretor de fotografia, câmeras, etc., mas quando perguntam para você o que faz um produtor de cinema, a resposta mais comum é dizer que ele ajuda o diretor (ou você diz que não faz a mínima idéia).

Mas ser produtor de cinema, de filmes, de grandes ou pequenas produções é muito mais que isso. É talvez o trabalho mais dificil e complicado e menos reconhecido dentro deste mercado, principalmente no nível "hollywoodiano". Muitos diretores fizeram esta transição e alguns até fazem acordos com grandes estudios para produzirem filmes e séries de tv em troca de poderem fazer filmes com mais liberdade (emprestar o nome para uma série de tv como produtor é dar um pouco de status à produção).

O produtor é indicado pelos executivos dos estudios, e normalmente é quem recebe o Oscar e outros prêmios de melhor filme, e essa é a única chance que ele tem de ser famoso. O produtor é a figura que garente que todos estarão lá, no momento certo, quando são necessários. No dia-a-dia de uma produção, o produtor aparece sempre que há um problema, mas na verdade este profisisonal está envolvido desde o início. No período inteiro, da pré a pós-produção, o produtor cuidará da:

- Aceitação ou distribuição do filme por uma produtora e/ou estudio (famoso sinal verde);
- Pesquisas mercadológicas (público alvo, aceitação, retorno financeiro esperado);
- Financiamento para a produção;
- Acertos de comissionamento das partes envolvidas;
- Formatação do roteiro para que se encaixe dentro do orçamento;
- Contratação de diretores, roteiristas, atores, técnicos e outros membros da equipe;
- Visão macro de locações, figurino, sets, etc.;
- Organização de fornecedores e serviços (alimentação, acomodação, material técnico, objetos de cena, cenários, etc.);
- Aprovação do cronograma da pré-produção, filmagem, edição, pós-produção, etc.;
- Realização de acordos de marketing como os "product-placement";
- Direcionamento para marketing, divulgação, publicidade, propagandas;
- Ajustar a visão do diretor às necessidades do estudio (filmes de estudio);
- Lidar com os problemas do dia-a-dia.

Com exceção dos trabalhos "burocráticos", o diretor do filme é quem tem a resposta final sobre atores, designers de produção, diretores de fotografia, roteiro, edição, efeitos especiais ,etc. Considere esta relação como o gerente de um restaurante e o chef de cozinha.

Apesar da visão "mercadológica", isso nos trás uma idéia de que filmes são processos, e não apenas obras de arte ou blcokbusters. Até Pasolini, Fellini e todos os diretores que terminam com "ini" ou têm nome francês precisam passar por algumas destas etapas junto aos seus produtores. Lembrem que mesmo com a visão do diretor, um filme nunca é o trabalho de uma pessoa só, ele nunca é "direcionado" exclusivamente pela visão do diretor.

A influência de atores, câmeras, diretores de fotografia, produtores e outros profissionais é que molda a película, por mais que você ache que o diretor é um "artista" solitário e tirano, você está errado. Cinema é um trabalho criativo coletivo, colaborativo e dinâmico. O "engessamento" só aocntece quando os executivos de estudios resolvem dar "pitacos" na produção. Daí nem o produtor faz milagres...

O cinema é arte, mas também é negócio. É dificil para os pseudo-intelectuais entenderem isso, mas margens e lucros são uma grande parte de fazer cinema, e o produtor muitas vezes precisa balancear estas duas variáveis, arte e negócios. Até mesmo um pintor quer vender seus quadros e/ou obter a aceitação do público, por isso dizer que a arte existe por si própria como expressão do autor é mentira, pois no fundo todos conhecemos a psique humana e sua relação com o "outro". E pense assim, se um produtor for bem sucedido nesta empreitada, sua mensagem será passada a vários espectadores, atingirá um público maior e irá criar pensadores melhores.
O cara do video não sou eu...

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Crítica: Dia que a Terra Parou

domingo, janeiro 18, 2009

Apesar de já conhecer a história de O Dia em que a Terra Parou pelo filme de Robert Wise, fui ao cinema já um pouco desconfiado: - Vamos lá, outro filme catástrofe no estilo Roland Emmerich. Entretanto foi bom pegarem um diretor que não tem experiência com este tipo de filme (apesar de Scott Derrickson ter feito desastres como Hellraiser Inferno e Lenda Urbana). Com Derrickson no comando o filme ficou bem diferente e com menos clichês do que normalmente costumamos ver. Claro que as ridículas cenas sem nexo estão lá, mas bem menos exageradas ou engraçadinhas.

Tanto quanto ver Cate Blanchet em Benjamim Button, ver a linda Jennifer Connelly logo no inicio do filme é um colirio para os olhos e tem um sabor de infância por lembrar da Sarah de Labirinto, a Deborah de Era Uma Vez na América e a Jenny de Rocketeer. Claro que é um pouco de "forçação" ter Jaden Smith no meio da história (trazendo aquele dramazinho desnecessário de filho adotivo), o protagonista da série de Mad Men como um cientista "pintoso" (fala sério né...cientistas que não são excêntricos?) e ainda o Monty Python John Cleese como um matemático (ring, ding, ding, ding Mr. Hilter!). Keanu Reeves até está legal e sério como um Spock pacifista, mas sua atuação lembra bastante seus personagens em filmes de ação e ficção cientifica.

O filme vale a pena de se ver, mesmo com as falhas que descrevi abaixo. Se não quiser saber das falhas, pule para o final do post. Agora vamos para as "balelas" de filmes hollywoodianos, shall we?

  • Quando a mãe liga para Jaden para que ele se esconda, a resposta do menino é que é mentira pois não está na tv (isso é quase verdade, o "povão" realmente acha que tudo na tv é real e indiscutível);
  • Quando a nave desce na área aberta do Central Park (Manhattan, a nova Tokyo) no fim da noite, há dezenas de pessoas, adultos, crianças e idosos, carregando bolsas e passeando... quem em sã consciência estaria no Central Park no meio da noite dando uma voltinha com bolsas de compras? Bem, eles precisavam de alguém para correr né?;
  • Quando o desastre acontece são chamados cientistas de diferentes nacionalidades, indianos, árabes, japoneses, chineses e alguns americanos (por que não todos americanos ou algum inglês?);
  • O alienígena Klaatu pede para Helen parar em frente ao McDonald's! Pelo amor de Deus, quanto o Mc Donald's pagou para aparecer neste filme? Os aliens são fãs da dieta do palhaço?;
  • Os EUA no filme desenvolvem novas tecnologias e as fabricam em questão de dias, inclusive as grandes placas para envolver o robô humanóide e a câmara de incineração;
  • Você ficou desesperado pelas ruas do Brasil quando o Bin Laden derrubou as torres gêmeas? Então por que o mundo inteiro entra em pânico quando tem uma nave espacial no Central Park?;
  • Por que quando a energia elétrica acaba nas cidades ela apaga um prédio de cada vez, janela por janela? Por que não dá blecaute geral com tudo apagando ao mesmo tempo de uma vez só?;
  • O alien era meio coração mole né? Ele mudou de idéia só por causa da mãe adotiva e do garotinho? Aliás, ele era o líder para cancelar alguma coisa? Quem toma as decisões no planeta dele?;
  • Por que o design do robôzão é tão tosco e humanóide? Não estamos mais nos anos 50 e Steampunk não tem mais graça!;
  • Você já ouviu falar de astrobiólogos que estudam sinais de vida em astros (outros planetas e afins?). De repente até existe essa profissão, não sei...;
  • A piadinha do menino Jaden para não machucar o policial foi extremamente previsível...;
  • Não entendi por que eles não encontraram os cadáveres dos personagens de Cloverfield, afinal eles resolveram se esconder no mesmo local no final do filme... copiar cena de outro filme é "brabo" hein Mr. Derrisckson.
O filme é bom, mesmo com seus problemas, é diversão pipoca garantida. Claro que não é um filme que atravessa décadas como os dos anos 80, mas vale as 2 horas. A idéia de substituir a nave espacial de 1951 por uma esfera de energia também foi muito criativa e uma boa "previsão" do que podem vir a ser os meios de transporte daqui a mil anos.

Veja também a resenha do site Omelete. Abaixo crítica da Veja.



- Xandre Lima - Imprimir esta página

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Crítica: Benjamim Button

sábado, janeiro 17, 2009

Apesar de encarar mais uma vez o péssimo atendimento do Cinemark Botafogo (uma só pessoa para atender uma fila imensa em um guichê de 07 baias), os assentos desconfortáveis, anti-ergonômicos e sem apoio de cabeça, e os pequenos espaços de circulação (típico de um complexo comercial de cinemas sem amor à 7ª arte), vi um filme muito bom hoje que recomendo.

No final de minha infância e inicio da minha adolescência, eu costumava dizer para minha mãe que eu havia nascido na época errada e no lugar errado. Eu queria dançar o dixieland jazz nos clubes nova iorquinhos dos anos 30, ver Jerry Lee Lewis no palco, ver o show dos Beatles no Ed Sullivan Show, participar de uma grande guerra e voltar pra casa para a garota dos meus sonhos, voar com a Esquadrilha Lafayete, descobrir segredos de milhares de anos como um arqueólogo vitoriano, colecionar fotos de Bettie Page, me impressionar com os primeiros quadrinhos do super-homem e ficar encantado com as matinês dos pequenos cinemas americanos.

Mas a vida nos dá nossa própria época e memórias, e muitas vezes não sabemos como aproveitá-las ou até mesmo garantir que nossos sobrinhos, filhos e netos poderão um dia ver filmes sobre o fascínio que tinhamos sobre nossa cultura pop. Benjamim trás um pouco desta volta ao passado, em diversas épocas, mostrando que no fundo somos todos iguais. Nossos medos, aspirações, preconceitos, e que o mais dificil é largar a falta de esperança e o "tecnocracismo" para se entregar-se a uma vida cheia de surpresas espontâneas e incríveis.

Benjamim Button é um menino que nasce velho, enrugado e feioso, e por isso é abandonado pelo pai na porta de um asilo (referência a uma família ficticia, os Button, que inventaram os botões e têm como concorrente o inventor do zíper). A zeladora do asilo adota a criança que incrivelmente fica mais nova a cada ano. Durante esse rejuvenescimento Benjamim descobre as amizades, o amor, o sexo, o álcool, tudo com o olhar de uma criança que acabou de descobrir que uma formiga queima à luz da lupa, que as dormideiras fecham com o toque, que não existem monstros no escuro, a vida de Benjamim é pura descoberta no sentido inverso de tudo o que nós já vivemos. Imagine só descobrir o sexo com 13 anos quando todos acham que você tem 80...

O filme já começa com uma cena bem emocional. Um grande inventor faz um relógio para uma estação de trem, mas o relógio roda ao contrário... Emocionado o inventor diz que o relógio roda ao contrário para que seu filho volte vivo da 1ª guerra, algo que nunca deveria ter acontecido. Junto ao seu discurso aparecem cenas da 1ª guerra como que "rebobinadas", e as pessoas da estação entendem e se identificam com a mágoa do homem que só espera que a humanidade um dia acorde e resolva fazer a coisa certa.

A mensagem do filme cresce ao longo da projeção e vai ficando mais forte fazendo até as mentes menos acadêmicas refletirem sobre sua própria condição no mundo, idade e identidade, as coisas que deixamos de fazer depois de velhos por que queremos ser "adultos responsáveis", e tantas outras coisas que deixamos entrar na nossa cabeça por uma falta de um "pensar próprio" que nos faça ponderar antes de abraçar o legado cultural retrógrado de uma sociedade parada no tempo com seus preconceitos, modismos, tradições sem sentido e que tende a julgar todos que são diferentes. Para Benjamim o que importa é ser feliz, viver como uma criança mesmo que esta criança tenha responsabilidades. Para Button a vida e as pessoas são a maior dádiva que alguém pode ter.

O roteiro do filme é de Eric Roth, por isso se você é um viciado em cinema, como eu, vai logo perceber o estilo de narrativa e diversas cenas e dramas idênticos ao de Forrest Gump, outro filme escrito por Roth. A mãe sábia sem instrução que faz tudo para a felicidade do filho, o louco marinheiro beberrão que tem um bom coração, a paixão de infância que cresce e faz besteiras até descobrir que realmente ama o protagonista (lembra de Robin Wright, a "Jenny" em Gump?), as cenas mescladas com fatos históricos, o encontro com celebridades e as piadas engraçadinhas como o cara dos raios (as cenas do vovô são hilárias, mas os videos em preto-e-branco foram desnecessários e apelativos demais... bem "povão").

Uma das coisas bonitas que Roth traz desde Forrest Gump é que quando você ama alguém de verdade, a presença dela, sua companhia, é mais importante do que sexo, beijos ou carícias. Era isso que Button busca no inicio em Daisy e ela não entende. Mas no mundo do cinema nada se cria, tudo se copia (até de si mesmo como Roth). Até mesmo o grandioso Batman Dark Knight de Christopher Nolan usou passagens do conto "Os Destruidores" de Graham Greene - também citado em Donnie Darko - copiando a índole do Coringa com base nos adolescentes que queimam pilhas de dinheiro só para ver o caos.

Quanto aos efeitos especiais. Eu trabalho com computação gráfica, então dificilmente algo CGI me parece real, principalmente quando tenta replicar pessoas (pois estamos muito acostumados com o rosto humano para sermos enganados pelo brilho falso dos modelos 3D). Entretanto admiro a tentativa de utilizar o rosto de Brad Pitt substituindo o rosto dos atores que interpretaram Benjamim velhinho, inclusive o bebê enrugado. Esta técnica tem sido utilizada amplamente, desde o filme X-Men para mostrar Magneto e Xavier mais novos até nos novos Guerra nas Estrelas para mudar falas (sim! Eles mudavam lábios e expressões para mudar diálogos). A mais conhecida técnica foi usada pela Eyetronics no documentário dos últimos dias de Hitler que recriava cenas da 2ª Guerra fazendo rostos perfeitos de Hitler, Roosevelt e Churchill em 3D, que eram sobrepostos aos rostos dos atores reais. Pelo menos no documentário ficou perfeito, mas Button não engana...

Vale ressaltar que os produtores deste filme são Kathleen Kennedy e Frank Marshall, "figurinhas carimbadas" do cinema desde os filmes de Indiana Jones, E.T. Poltergeist, Goonies, De Volta para o Futuro, Viagem Insólita, Império do Sol, Persepolis, Munique, Parque dos Dinossauros e tantos outros sucessos. Cate Blanchet também está linda neste filme (como sempre), e é mais surpreendente ainda e apaixonante ver sua cara rejuvenescida nas cenas que mostram Daisy adolescente. O elenco inteiro é fanstástico, um trabalho quase de teatro (fazer teatro é o sonho de 99% dos atores americanos). O filme foi feito em Nova Orleans, a cidade que ficou conhecida pela devastação feita pelo furacão Katrina.

Com excessão dos efeitos faciais e as cópias descaradas de cenas e dramas de Forrest Gump, vale a pena ver Benjamim Button com o coração aberto, a mente livre e um pouco de reflexão. Não deixe que os filmes acabem quando você sai do cinema. Se você não trás sua diversão, seu aprendizado e suas amizades para o crescimento de sua vida, como individuo, como "ser social", como trabalhador e como solucionador de problemas, é por que aquele tempo gasto não lhe serviu de nada.

Um dia você vai acordar e perceber que trabalhou, se divertiu, teve filhos, casou, viajou, mas nunca fez nada realmente grandioso com a sua vida, nunca seguiu seus sonhos, trabalhou e seguiu a rotina que os preceitos da sociedade esperavam de você. Tentou agradar a todos e nunca fez o que realmente lhe era importante. Os filmes são mais do que 2 horas de diversão, são portas para algo maior que pode ser aplicado no trabalho, na escola, na faculdade, na familia, nas amizades, no amor, na sua forma de ver o mundo. Deixe Benjamim lhe ensinar um pouco das coisas que realmente valem a pena na vida. Quem sabe você não larga tudo e se junta a um barco pesqueiro como Gump e Button?

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